Brasileiros refugiados somam mais de mil
Quando chegou ao centro de acolhida de refugiados em Milão, em 2008, o brasileiro Paulo Pavesi, 46, dividia sua "cela" com um nigeriano e dois paquistaneses.
O nigeriano, que era católico, fugira de seu país após muçulmanos fundamentalistas matarem sua mulher grávida. Foi para a ilha de Lampedusa de barco, com outros africanos. Os paquistaneses eram vítimas de perseguição da Al Qaeda.
Pavesi destoava –era analista de sistemas, de classe média, vindo de um país democrático e de grande tolerância religiosa.
Assim como Pavesi, outros 1.207 brasileiros vivem como refugiados no mundo. Segundo levantamento da Acnur (Agência da ONU para Refugiados), feito a pedido da Folha, os Estados Unidos são o país que abriga o maior número de refugiados brasileiros–679, e outros 110 aguardam a resposta a seu pedido. Em seguida vem o Canadá, com 175 (mais 73 à espera) e a Alemanha, com 163 (3).
A Itália, país escolhido por Pavesi, tem só 12 brasileiros.
O número de refugiados brasileiros é minúsculo se comparado aos de países que passam por graves crises humanitárias ou guerras civis, como Afeganistão (2,5 milhões) e Síria (1,9 milhão).
Mesmo assim, é surpreendente que mais de mil brasileiros vivam com status de refugiado. Segundo a Convenção de Genebra da ONU, enquadram-se nessa condição pessoas que temem, com fundamento, perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade ou opinião política, e que não possam voltar para casa. Parte-se do pressuposto de que o país de origem não tenha condições de proteger a pessoa.
O carioca Aluízio Ribeiro, 49, chegou ao Canadá em 2003. Veio de carro dos EUA. Assim que cruzou a fronteira, pediu refúgio.
Na papelada, Ribeiro contava que sua mulher havia testemunhado um crime cometido por um policial no Rio e que eles eram vítimas de perseguição. "Tínhamos medo de retaliação", contou.
O tribunal canadense entendeu que seu pedido era legítimo e concedeu a Ribeiro, sua mulher e duas filhas o status de refugiados.
Eles ganhavam US$ 1.600 (R$ 3.700) mensais do governo canadense, casa mobiliada e advogado de graça. A única obrigação era estudar inglês. "Você pode chegar com US$ 1 que você não morre de fome", conta Ribeiro.
EDitoria de Arte/Folhapress | ||
![]() |
Com o tempo, eles se estabeleceram na cidade de Niagara Falls, em Ontário.
Hoje Aluízio é cidadão canadense e tem uma empresa de limpeza que emprega 60 funcionários. Dirige uma BMW e vai para o Brasil três vezes por ano."O sistema de saúde é bom e é grátis, e aqui não tem violência."
Ele afirma que agora está bem mais difícil para os brasileiros conseguirem refúgio. "Todos os brasileiros que entraram como refugiados na minha época diziam que estavam fugindo de violência –em alguns casos, era verdade, mas alguns inventavam."
Sérgio Santana, 47, foi um que inventou –mas sua história não colou.
"Estava mal de dinheiro, um amigo meu disse que era fácil conseguir refúgio. Inventei uma história de que tinha me envolvido em um acidente de carro em que uma pessoa morreu e que por isso estava sendo perseguido", disse. "Mas eles descobriram que era mentira."
Após ter o pedido negado, ele ainda ficou um tempo no Canadá estudando inglês. Depois voltou ao Brasil e hoje mora em Cabo Frio (RJ), onde trabalha numa barbearia.
Segundo Kristina Gasson, advogada especializada em refúgio nos EUA, os principais motivos apresentados pelos brasileiros são violência policial, ameaça de traficantes de drogas, discriminação racial (sofrida por negros) e ameaças a ativistas ambientais da Amazônia.
"Mas está cada vez mais difícil um brasileiro conseguir refúgio aqui; o Brasil está em ascensão, vai sediar a Copa, é duro provar que não consegue proteger seus cidadãos."
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade
Comentários
Ver todos os comentários (12)Amauri
19/01/2014 16h01 DenunciarZeca
19/01/2014 14h13 DenunciarO brasileiro é um refugiado político dentro do seu próprio País.Iludido pelos governantes com promessas de melhora, os miseráveis que dependem das ações sociais do governo acreditam em um amanhã melhor, com segurança, saúde e educação de qualidade. acreditam em ascender para a classe média com uma renda per capita definida pelo governo entre R$ 291,00 e 1019,00.A grande maioria do brasileiros é refugiado da própria ignorância. São refugiados porque acreditam na honestidade de políticos corruptos
Professor
19/01/2014 12h11 DenunciarEsperem e verão aumentar o numero de refugiados se o regime permanecer no BRASIL.
Colunistas

Um mundo de muros
Em uma série de reportagens, a Folha vai a quatro continentes mostrar o que está por trás das barreiras que bloqueiam aqueles que consideram indesejáveis
páginas especiais
Blogs
Veja a lista completaEnvie sua notícia
Em Mundo
- 1
EUA fazem maior ataque com porta-aviões na história; veja vídeo
- 2
Estudante de Harvard, futura rainha da Bélgica se vê ameaçada por veto de Trump a alunos estrangeiros
- 3
Escultura na Times Square chama atenção e gera reações racistas
- 4
Negociação nuclear entre EUA e Irã trava; temor de guerra cresce
- 5
Brasileira que fez leitura na missa de início do papado de Leão 14 é ligada à Opus Dei
Se refugiar em país pobre ou "mais ou menos bem" ninguém quer né? Só tem refugiado em pais de primeiro mundo. É o fluxo da cucaracha. Mas acredito sim que podemos ter brasileiros que legitimamente possam pedir refugio. Exemplo: alguém que se meter a confrontar a familia s/a/r/n/e/y no maranhão. Outro exemplo, o Ras Geraldinho, religioso que prega o rastafari no Brasil e está preso por tráfico, sem nunca ter vendido uma grama de ma/co/nha, somente plantado para uso de sua seita. E por aí vai...