Editorial: Arauto de Obama
Depois de acompanhar a vitória da seleção de seu país sobre a equipe de Gana, em Natal, o vice-presidente dos EUA, Joe Biden, encontrou-se nesta terça (17) com a presidente Dilma Rousseff.
A visita é um gesto de Washington para superar o mal-estar provocado pelas revelações de que o serviço secreto norte-americano espionou a mandatária brasileira.
Quando o caso veio à tona, no ano passado, Dilma reagiu com indignação. Cancelou uma visita de Estado aos EUA e exigiu do presidente americano, Barack Obama, o compromisso formal de que novas incursões não se repetiriam.
A reação, proporcional à gravidade dos fatos, congelou o diálogo e transferiu para a Casa Branca a iniciativa da reaproximação.
Em janeiro, Obama anunciou medidas para controlar as atividades de inteligência e declarou que seu país não iria mais espionar líderes de nações aliadas e amigas –categoria em que o Brasil por certo se enquadra.
Passado o momento de maior tensão, a Copa e a proximidade das eleições brasileiras ofereceram ambiente propício ao degelo.
Para Joe Biden, o torneio é um bom palco para demonstrar simpatia e ampliar a visibilidade de sua passagem pelo continente. Para Dilma, a visita reconciliatória ajuda a conter críticas ao antiamericanismo de setores do governo e à tendência da política externa brasileira de pautar-se por critérios ideológicos.
Os EUA são a maior economia do planeta e o segundo parceiro comercial do Brasil, atrás da China. As perspectivas de expandir o fluxo comercial e ampliar investimentos não podem ser desprezadas. Pelo contrário, as oportunidades existem e parecem mutuamente subaproveitadas.
Interesses conflitantes e um histórico de preconceitos e desconfianças mútuas travam as relações entre os dois países.
Washington, por exemplo, não vê com bons olhos as pretensões do Brasil a ser líder regional num contexto que prescinda de sua presença nas decisões; por sua vez, o governo brasileiro teme o poderio norte-americano e alimenta a retórica contra sua suposta vocação imperialista.
Em entrevista a esta Folha, o vice-presidente dos Estados Unidos mencionou uma série de interesses comuns e disse que os temas em vista são variados.
Resta saber se haverá competência e boa vontade para avançar. A visita de Joe Biden já virou a página da crise de espionagem, mas é cedo para saber em que ritmo a agenda bilateral irá evoluir.
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Comentários
Ver todos os comentários (1)LUIZ RUIVO FILHO
18/06/2014 10h23 DenunciarSiga a folha
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Espero que esta visita produza resultados positivos para ambos porque são inter-dependentes em busca do desenvolvimento e bem-estar da população, apesar de alguma resistência de setores extremistas, inclusive de alguns países do fundo do quintal e outros periféricos como tem ocorrido. Creio tratar-se de relações com um País importante == sem desmerecer os demais, que poderá trazer benefícios recíprocos e não só na troca de produtos como também em tecnologia. Querelas só resultam em prejuízos.