Análise: Táticas de militantes surpreendem autoridades no Paquistão
As audaciosas táticas usadas pelos militantes do Paquistão nos ataques contra prédios da polícia em Lahore, nesta quinta-feira, e em Rawalpindi, alguns dias atrás, tomaram as autoridades de surpresa.
Essa é, talvez, a única desculpa para a falta de ação das forças de segurança em relação aos extremistas.
Entretanto, o fracasso em impedir o ataque contra o quartel-general do Exército em Rawalpindi no dia 12 de outubro desafia particularmente a imaginação - em especial porque detalhes sobre o ataque foram publicados dias antes em um jornal de circulação nacional.
O News International, um jornal local em inglês, havia publicado detalhes de um relatório do Ministério do Interior que dizia que um ataque ao QG era iminente.
A reportagem de 5 de outubro dizia que combatentes do grupo Lahskar-e-Jhangvi - com o apoio do Taleban do Waziristão do Sul (região paquistanesa na fronteira com o Afeganistão) - estavam planejando o ataque.
O jornal dizia que os militantes pretendiam entrar no quartel usando uniformes militares, para então espalhar o caos.
"É simplesmente incrível que a agências (de segurança), apesar de estarem cientes desses fatos, não tenham conseguido impedir o ataque", afirma Raza, funcionário de uma multinacional local.
"Se eu, como cidadão comum, soube dos riscos por meio do jornal, o que isso diz sobre nossos serviços de segurança?"
Táticas inovadoras
Os ataques desta quinta-feira em Lahore representam a primeira iniciativa coordenada em uma cidade paquistanesa neste ano. Também foram os primeiros envolvendo alvos múltiplos já realizados na cidade do leste paquistanês.
Os alvos dos militantes têm sido vários: desde um movimentado mercado em Peshawar até o prédio da ONU na capital, Islamabad, nada parece fora de alcance.
Os militantes claramente permanecem uma força potente e podem atacar em qualquer lugar no Paquistão.
Alguns especialistas afirmam que as novas e inovadoras táticas usadas pelos militantes - como o uso de uniformes militares para invadir o quartel - dificultam o combate.
Desde que o Taleban começou a realizar ataques regulares, a maioria de seus alvos foram instalações das forças de segurança.
Sua ousadia já pegou as agências de segurança de calças curtas mais de uma vez.
Os últimos ataques ocorreram no momento em que o governo afirma que a militância do Taleban está enfraquecida. O Exército, no entanto, tem adotado uma postura mais cautelosa, mas concorda em princípio.
Um golpe substancial foi a morte do líder supremo do Taleban do Paquistão Baitullah Mehsud, morto em um bombardeio de aviões americanos em agosto passado.
Mas em menos de dez dias, no início de outubro, atentados em todo o Paquistão causaram a morte de mais de cem pessoas.
Novos militantes?
A composição dos grupos extremistas está mudando. Enquanto antes os militantes provinham de áreas tribais, agora, há uma crescente representatividade do Punjab (Província do leste onde fica Lahore) e outras regiões do Paquistão.
Sobre este aspecto, os comentários mais significativos são de Iftikhar Hussain, ministro da Informação da Província da Fronteira Noroeste.
"Está claro de onde vem a nova onda de militantes", disse ele à imprensa depois do ataque ao quartel general do Exército. "É preciso uma operação militar como a do Vale de Swat no Punjab".
Seus comentários se baseiam no fato de os grupos Tehrik-e-Taliban, de Amjad Farooqi, e Lashkar-e-Jhangvi terem assumido conjuntamente a autoria do ataque.
Amjad Hussain Farooqi era um dos militantes mais procurados do Paquistão até sua morte durante um confronto com forças de segurança em 2004 na Província de Sindh, no sul do Paquistão.
Ele é visto como um pioneiro no ataque às forças de segurança e o cérebro por trás de várias tentativas de assassinato contra o presidente Pervez Musharraf.
O mais interessante é que ele era membro do Jaish-e-Mohammad, um dos grupos militantes mais perigosos do Paquistão, que revitalizou suas desde 2007.
Mas outros grupos militantes do Punjab, como o Harkatul Mujahideen e o Lashkar-e-Jhangvi, também retomaram a ação.
Esses grupos também vem promovendo o sentimento anti-indiano na região.
Depois de serem banidos em 2002, muitos de seus integrantes foram mortos ou presos, e sua liderança detida.
Mas desde 2007, a liderança desses grupos tem conseguido renovar seus recursos.
Menos controle
Desde esta época - e por razões conhecidas apenas pelo governo - o controle sobre sua proibição parece ter afrouxado.
Eles têm conseguido abrir contas com novos nomes, operar sites na internet e realizar "atividades de caridade" para recolher doações.
O dinheiro vem tanto de pequenas doações de cidadãos comuns até grandes doações privadas no Paquistão e fora do país.
No país, a cidade de Karachi, no sul, permanece sendo a maior fonte de recursos, enquanto boa parte do dinheiro também vem de trabalhadores imigrantes na Europa e Oriente Médio.
Renovados com fundos e novos recrutas, eles agora pretendem realizar uma jihad contra o Estado e as forças de segurança paquistanesas.
Um recente evento testemunhado em Karachi ilustra bem a intenção.
Do lado de fora de uma das maiores mesquitas no centro da cidade, logo após as preces, um pequeno grupo de homens se reuniu em torno de uma urna de doações.
Sua identidade era proclamada orgulhosamente. Todos eram membros do Jaish-e-Mohammad, banido pelo governo do Paquistão e identificado como uma organização terrorista pelo governo americano.
Seu canto podia ser claramente ouvido em meio à multidão: "Assim como a reza e o jejum, a Jihad também é uma obrigação.
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