Vírus de febre amarela teve mutação inédita que pode ter provocado surto
Alexandre Rezende-17.jan.2017/Folhapress | ||
Vacina contra a febre amarela é aplicada em posto de saúde em Minas Gerais, em janeiro |
Pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz descobriram que o vírus do último surto de febre amarela –o maior desde o início dos registros do Ministério da Saúde– tem uma sequência genética jamais vista.
Instigados pela extensão da última epidemia, eles fizeram o sequenciamento completo do genoma do vírus e encontraram oito mutações inéditas em algumas de suas sequências genéticas.
Dessas variações, sete têm impacto na formação de proteínas envolvidas na replicação viral, processo que permite que o vírus provoque a doença.
É possível que essa diferença genética seja um dos motivos do último surto de febre amarela, mas cientistas dizem que ele também pode ser explicado pelo fato de a população da região impactada (Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo e Rio de Janeiro, principalmente) ser pouco coberta pela vacina.
"Ainda não sabemos se esse vírus é predominante no atual surto. É preciso fazer novos estudos", afirma Ricardo Lourenço, chefe do Laboratório de Mosquitos Transmissores de Hematozoários do instituto.
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O país já registrou 756 casos confirmados da doença em 2017, contra 7 em todo o ano passado. Desses, 259 acabaram em morte até agora. Minas teve 65% das ocorrências e o Espírito Santo, 31%. A febre amarela existente hoje no país é a de transmissão silvestre, que ocorre em áreas rurais e de mata.
Mesmo com a descoberta, a vacina adotada atualmente continua valendo, dizem os cientistas. Isso porque essas mudanças não afetam as proteínas do envelope do vírus, que são centrais para a eficácia da imunização.
O impacto dessa nova informação para a saúde pública ainda não está claro. Constatar as variações foi apenas o primeiro passo.
"Agora, precisamos estudar o vírus em laboratório para entender se ele é, de fato, mais agressivo para humanos, animais e vetores [mosquitos]", afirma Myrna Bonaldo, chefe do Laboratório de Biologia Molecular de Flavivírus do Osxaldo Cruz.
Os pesquisadores também querem saber quando essas alterações ocorreram e como o vírus se espalhou. Para isso, pretendem comparar amostras atuais e antigas –o último sequenciamento genético foi feito em 2010, na Venezuela.
Eles já colheram amostras de mosquitos e dois macacos do Espírito Santo, mortos em fevereiro deste ano, e de um macaco do Rio. Agora, querem pegar de humanos, macacos e mosquitos de outros Estados.
O estudo foi realizado por pesquisadores dos laboratórios de Biologia Molecular de Flavivírus e de Mosquitos Transmissores de Hematozoários do instituto. Os resultados foram divulgados na revista "Memórias", da instituição.
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