É pesquisadora-sênior na Lyndon B. Johnson School of Public Affairs, da Universidade do Texas, em Austin (EUA).
Perguntas para Dilma 2.0
Acabamos de votar nos Estados Unidos também, nas "midterms" –as eleições para deputados e governadores promovidas dois anos depois de iniciado cada mandato presidencial. Assim, estamos um pouco distraídos aqui em Washington, porque o Partido Republicano provavelmente conseguirá o controle majoritário do Senado pela primeira vez desde 2006 e desde que Barack Obama, democrata, tomou posse, em 2009.
Com a probabilidade de os republicanos controlarem a Câmara e o Senado, os dois últimos anos do presidente no cargo podem exigir concessões legislativas tremendas em sua agenda e mais ação executiva que em seu primeiro mandato.
Nesse contexto, resolver ou "resetar" as relações com Dilma 2.0, ou não, e como fazê-lo, não chega a ser algo que faça manchetes.
Não voltará a sê-lo a não ser que Dilma e Obama decidam reprogramar a visita de Estado. Assim, antes de eu sair (de novo) para comprar um vestido de gala para esse evento ou persuadir meu marido a adquirir um smoking do século 21, há sete perguntas que Susan Rice e John Kerry podem fazer ao Planalto e ao Itamaraty.
1) Agora que os dois presidentes precisam trabalhar com Congressos mais conservadores, qual é o âmbito realista de uma agenda bilateral revista e como o Brasil vai ajudar a impulsionar essa agenda?
2) Considerando que um tratado tributário bilateral está na agenda, mais ou menos, nos últimos dez anos, por que é mais provável que ele vire realidade agora?
3) Agora que os EUA e o Brasil acordaram o que parece ser uma resolução definitiva sobre o algodão, e especialmente em vista das restrições do Mercosul, será que as condições estão propícias ou ainda mais propícias para um diálogo aberto sobre comércio livre ou ainda mais livre?
4) O que exatamente se quer dizer em Brasília com o termo "acordo de espionagem"? (E, já que estamos falando nisso, depois de toda a reclamação justificada contra a NSA no ano passado, por que essa questão parece ter desaparecido do horizonte durante a eleição presidencial brasileira?)
5) Na política externa, poderiam nos ajudar a entender o porquê do apoio do Brasil e de toda a América Latina para a Venezuela ocupar vaga rotativa no Conselho de Segurança da ONU? (Dica: essa é uma oportunidade para o Brasil esclarecer uma classe política de Washington que está genuinamente, mesmo que chocantemente, consternada.)
6) Quando a senhora discursou na Assembleia Geral da ONU em setembro, quis sugerir que o Ocidente deve negociar com o EI?
7) Se o presidente Obama comparecer à Cúpula das Américas no ano que vem, no Panamá, ao lado do cubano Raúl Castro, que contribuição substantiva Brasília espera fazer para a região e para o relacionamento EUA-Cuba, além do simbolismo?
Talvez nossos presidentes deem partida num diálogo em torno dessas questões na semana que vem, na cúpula do G20. Então, quem sabe, o comboio de Dilma chegue ao número 1600, Pennsylvania Avenue, e eu possa tirar o pó dos meus sapatos de festa.
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