Trabalhou na "Tribuna da Imprensa", em "O Globo" e "O Estado de S. Paulo" antes de ingressar na Folha, em 1991. Passou pelo agora extinto "Folhateen", foi colunista de "Esporte", repórter especial e ombudsman por um ano.
Sempre aos domingos
Para ser preciso, quase sempre: em nove dos 12 domingos passados, três em cada quatro, a Folha publicou resultados de pesquisas do Datafolha.
Manchetes anunciaram que a desordem nos aeroportos e a tragédia de Congonhas não abalaram a popularidade do presidente Lula; que o ex-governador Alckmin é o favorito para prefeito de São Paulo; que os brasileiros são avessos à malhação; que a maioria dos fumantes não consegue largar o cigarro; e como andam os hábitos da família nacional.
A Primeira Página também alardeou levantamentos sobre a qualidade dos hospitais, conforme o diagnóstico dos médicos; os craques e os clubes de futebol mais queridos; e os cursos de MBA (pós-graduação) preferidos.
A Revista da Folha, sem chamada na capa do jornal, expôs o que os habitantes da maior cidade do Brasil acham de homossexuais exercerem certos cargos e funções.
Enfim, um belo trabalho. Mas do belo instituto que é o Datafolha, não do jornalismo.
A função jornalística essencial é informar, contribuir para que os leitores, no caso de veículos impressos, saibam mais sobre as coisas. E não divulgar pesquisas sobre o que eles -ou a opinião pública- pensam disso e daquilo, embora os números por vezes sejam relevantes.
É possível que a predominância das empreitadas do Datafolha no jornal configure uma "teoria da dependência". Se o jornalismo fraqueja, e falta contar boas histórias, a pesquisa tapa o buraco.
Como anotei em uma crítica diária (leitura em www.folha.com.br/ombudsman), "é inegável o fascínio da Folha por porcentagens. Mas o destaque às pesquisas talvez indique a ausência de reportagens que possam rivalizar pelo espaço mais nobre do jornal [a Primeira Página]". Em 23 de setembro, não fossem as conclusões sobre fumantes, a opção seria "Lançamento de ações impulsiona a formalização", manchete sem encanto.
As edições dominicais são as mais caprichadas -por isso é ainda mais preocupante a Datadependência. Começam a ser planejadas nas segundas às 15h, em reuniões numa sala da Redação.
O "Manual da Redação" de 1987 tratou delas: "Na tradição dos matutinos, é a maior edição da semana, tanto em número de páginas editoriais quanto em volume de publicidade. É a edição em que aparecem mais textos "de leitura': reportagens investigativas, análises mais longas, material de pesquisa mais elaborado".
O "material de pesquisa" não é de opinião pública, mas jornalístico. E não custa ponderar que "reportagem investigativa" é pleonasmo.
A escassez de reportagens de fôlego nos últimos meses transformou o jornal de domingo em transmissor assíduo de pesquisas. Elas são um trunfo valioso em momentos determinados, como campanhas eleitorais. Se vulgarizadas como recurso jornalístico, perdem o viço.
Pesquisa de opinião é negócio de instituto de pesquisas. O do jornal é jornalismo: escolher assuntos, garimpar informações, revelar histórias e conflitar idéias.
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