Jornalista, cronista e tradutora, é colunista do "International New York Times''. É autora de "O Livro Amarelo do Terminal" (Ed. Cosac Naify, Prêmio Jabuti de Reportagem) e "Noites de Alface" (Ed. Alfaguara). É editora de "A Hortaliça" (www.hortifruti.org).
Tartaruga também é gente
Há poucas semanas, a revista sãopaulo publicou uma matéria sobre tartarugas abandonadas no lago do parque Piqueri. Seriam cerca de 150 animais que cresceram demais e foram despachados por seus donos, o que configura grave crime ambiental.
Ilustração Catarina Bessell |
Não se pode abandonar uma tartaruga na natureza por vários motivos: primeiro porque, se ela foi criada em cativeiro, terá problemas em se adaptar à vida selvagem e pode morrer. Segundo porque irá desequilibrar o ecossistema local, sobretudo se for um tigre-d'água americano, tartaruga nativa do sul dos Estados Unidos, com listras vermelhas abaixo dos olhos.
Muito populares no Brasil, as "orelhas-vermelhas" são consideradas pela União Internacional de Conservação da Natureza uma das cem maiores espécies invasoras do mundo. Em matéria publicada no "New York Times" do dia 22/3, falo da caçada internacional a essa espécie, bem mais esperta e agressiva do que as nativas.
Algumas coisas que aprendi após a pesquisa, sendo dona de duas tartarugas legalizadas (e muito garbosas):
1. Não comprem tartarugas aquáticas como animais de estimação. Legais ou ilegais. São animais que dão trabalho, crescem rapidamente e fazem sujeira; é preciso ter um aquário de 100 litros para que elas tenham uma vida minimamente aceitável. Embora eu goste muitíssimo de Napoleão e Jacinto, não recomendo a compra e sou cada vez mais contrária à comercialização.
2. Embora os criadouros autorizados pelo Ibama façam um bom trabalho na comercialização de tigres-d'água brasileiros, pregando o discurso de que assim estariam combatendo o tráfico de espécies invasoras, melhor seria se parassem de se dedicar ao negócio. Porque tartaruga não é pra ser bicho de estimação. Elas merecem viver em seu habitat de origem.
3. Por último, sobre as infames orelhas vermelhas: que culpa tem a espécie de ter sido exportada? Sei que elas podem destruir um ecossistema, mas precisa decapitá-las, como fazem na Austrália? E depois esmagar o cérebro ainda ativo do animal, que segue consciente e demora para morrer Precisa congelar as tartarugas até a morte, como no Japão, numa eutanásia considerada cruel, já que elas têm metabolismo lento e sentem as próprias células explodindo? Precisa executá-las com um tiro na cabeça?
As tartarugas, enfim, não têm culpa. Não deviam pagar pela estultice dos seres humanos.
PS.: Se você tem uma orelha-vermelha, deve entregá-la ao Ibama ou a um Cras (Centro de Recuperação de Animais Silvestres), como o do Parque Ecológico do Tietê (tel.: (11) 2958-1477, ramal 226). Se não tem mais condições de criar sua tartaruga nativa, procure alguém que possa adotá-la ou a devolva ao criadouro de origem. Se quiser mesmo ter uma tartaruga, adote (mundodastartarugas.forumpratodos.com ).
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