Conheça o restaurante grego instalado há mais de 40 anos em SP
Beatriz Toledo/Folha Imagem |
Mussacá é uma espécie de lasanha, que é a receita mais pedida entre as opções da casa |
De nome e gestos excêntricos, Trassyovoulos Petrakis, mais conhecido como "seu Trasso", recebe do primeiro ao último cliente na porta do Acrópoles, restaurante grego inaugurado há 41 anos no Bom Retiro, região central da capital paulista.
Seus 89 anos não o impedem de abrir a casa diariamente às 6h e de fechá-la às 24h. É ele também quem faz as compras, "para que os ingredientes estejam todos bem fresquinhos". Na sua lista, não pode faltar berinjela.
O produto trivial compõe a mussaká, uma espécie de lasanha, que é a receita mais pedida entre as 20 opções dispostas sobre o balcão da cozinha da casa. A porção, que serve bem uma pessoa, custa R$ 23.
Não, não existe cardápio por lá. Toda a variedade do menu fica exposta, seguindo a tradição da Grécia. Os clientes chegam, apreciam o visual colorido e farto, sentem a profusão de aromas que se complementam e fazem o pedido. "A maior parte da minha clientela é brasileira, gente que aprendeu a gostar de nossa comida. Gregos e brasileiros são divertidos, festeiros e autênticos."
O ambiente do restaurante, com clima de boteco, fica animado. A decoração despojada, nas cores azul e branca, e com paredes tomadas por quadros da Grécia, reportagens, prêmios gastronômicos e pôsteres da seleção brasileira de futebol, reforça a informalidade.
Antes de morrer
O proprietário não conta o segredo do tempero que garante a clientela assídua e crescente, formada também por artistas e políticos. Saber que a maioria dos funcionários da casa está ali há mais de dez anos ajuda. São 12, entre faxineiros, garçons e cozinheiros, comandados por ele com seu estilo grego de ser: falando alto e gesticulando muito. Quem trabalha por lá, acostuma-se com o jeito ranheta do proprietário.
Um exemplo é Jairo Marques dos Santos, 36, cozinheiro há 12 anos do restaurante. É ele quem monta a especialidade grega, cujos ingredientes são apenas berinjela, batata e carne moída.
"A mussaká é o feijão dos gregos. Ninguém come sem", explica Trasso. Todos os meses, cerca de 750 berinjelas são usadas ali para montá-la em grandes fôrmas.
Observando o trabalho do cozinheiro, Trasso narra o processo de criação do prato. "É fácil. Você frita levemente as fatias de berinjela e de batata e deixa escorrer bem. Para montar, basta colocar uma camada de berinjela, salpicar queijo, distribuir as batatas, salpicar mais queijo e colocar muita carne moída. Em cima, o molho de queijo dá o toque final. Pronto", conta, sorrindo e mudando de assunto. "Não falo mais nada porque não quero concorrência."
A tal concorrência é, na verdade, desdenhada pelo proprietário. "Experimento os pratos e sinto que sobra sal e falta paladar. Esse negócio de tempero é uma outra história. E nisso somos muito bons." O público, que lota a casa todos os dias, e a crítica comprovam. O Acrópoles é um dos oito restaurantes brasileiros da lista de roteiros do "1.000 Lugares para Conhecer Antes de Morrer", best-seller mundial da americana Patricia Schultz, lançado no Brasil em 2006 pela editora Sextante. Ao lado dele, na seleção do livro, restaurantes tradicionais e majestosos como D.O.M. e Figueira Rubaiyat.
Sem quebrar pratos
Durante a semana, quando o movimento é moderado, o proprietário se senta às mesas com os clientes. Nos fins de semana, quando a casa serve cerca de 70 porções de mussaká --além do carneiro e dos frutos do mar, que também são sucesso--, a fila se estende pela calçada da rua da Graça. Ao ver toda a gente esperando, ele se irrita com a turma que, após comer, gosta de papear à mesa. Sem sutileza, convida os clientes a se retirarem. Os mesmos que vão esquecer a implicância do senhor de quase 90 anos e que, na próxima semana, estarão de volta.
O pedido será, novamente, a mussaká, que, só para variar um pouquinho, poderá ser recheada com frango, espinafre ou frutos do mar.
No final da refeição, os pratos não são quebrados. "Para que quebrá-los se essa não é uma tradição brasileira?", pergunta o grego.
Para conferir
Acrópoles
R. da Graça, 364, Bom Retiro, região central, São Paulo, SP, tel.: 0/xx/11/3223-4386. Seg. a dom.: 6h30 às 24h.
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