Monotrilho de Poços de Caldas fracassa
Um contrato feito à mão em 1981 vislumbrava um futuro ousado para a mineira Poços de Caldas, em que o monotrilho seria a solução para o transporte de massa.
A cidade turística, famosa pelas águas termais e então com 87 mil habitantes, sairia na frente de São Paulo, que só no mês passado começou a operar seu monotrilho.
Mais de 30 anos depois do projeto visionário assinado pela prefeitura e por uma empresa de engenharia, no entanto, o que restou foi um trenzinho fora de moda que "jaz" no alto do atual terminal de ônibus, além de pilastras enfileiradas ao longo do rio Lambari, que poluem a visão do centro da cidade. O curso de água que corta o município é chamado também de ribeirão da Serra, ribeirão Poços de Caldas e ribeirão das Antas.
Diante da obra parada, o Ministério Público do Estado abriu inquérito e quer que as partes cheguem a um acordo e assinem um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta).
Zanone Fraissat - 3.set.2014/Folhapress | ||
Sem nunca ter entrado oficialmente em operação, monotrilho continua em exibição em estação |
O problema é que prefeitura e concessionária não se entendem e se culpam mutuamente pelo fato de a obra estar incompleta e o serviço nunca ter funcionado.
Demolir as pilastras e vigas custaria até R$ 10 milhões, pelos cálculos da atual gestão. Já o valor necessário para ativar o monotrilho, dentro dos atuais padrões de segurança, é um mistério.
O contrato foi assinado pelo então prefeito Ronaldo Junqueira, já falecido, e a empresa J. Ferreira Ltda, a mesma que construiu o teleférico ainda em operação em Poços.
Assim como no caso do bondinho, a ideia da empresa era bancar totalmente a obra, e, ao fim de 50 anos de concessão, entregar o serviço sem ônus à prefeitura.
As pilastras e vigas foram erguidas nos anos 1980, mas o transporte nunca entrou em operação, segundo o promotor Emmanuel Levenhagen e a atual gestão. A empresa concessionária contesta.
FIASCO INICIAL
No início dos anos 2000, duas situações agravaram o impasse. Na viagem experimental, o trem parou por uma falha técnica. Os passageiros tiveram de ser retirados do alto pelos bombeiros.
Na mesma época, duas pilastras de sustentação do monotrilho caíram. A concessionária acionou a prefeitura na Justiça, alegando que obras da administração municipal para desassorear o rio Lambari abalaram a estrutura de sustentação do monotrilho.
O procurador-geral do município, Dalmo da Silveira, diz que a prefeitura quer assinar o acordo, se houver consenso. Inicialmente, o município entende que o melhor é demolir a obra. "É um abacaxi que ficou por conta de erros do passado", define.
O advogado José Carlos Cardillo, que defende o engenheiro Joel Ferreira, da J. Ferreira, diz que só haverá demolição se a prefeitura indenizar a empresa.
O TAC pode ser assinado, diz Cardillo, se a prefeitura reerguer as pilastras que tombaram. Ainda falta um laudo que demonstre a segurança atual da estrutura.
Enquanto a disputa persiste, o promotor resume, com a mesma expressão do procurador da cidade, o sentimento dos moradores: "É um abacaxi que deixaram".
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