Com quase 40 casos por dia, região da avenida Paulista vive onda de furtos
No mês de maio deste ano, a região da avenida Paulista, ponto turístico no centro de São Paulo, bateu um recorde: nunca se registraram tantos furtos na área.
Foram 1.117 desses crimes denunciados no 78º Distrito Policial, delegacia que mais recebe ocorrências da via mais famosa da capital e de seu entorno. Todos os dias, ocorrem, em média, 37 desses delitos na região.
Os dados de junho serão divulgados nesta segunda-feira (25) pela Secretaria da Segurança Pública, do governo Geraldo Alckmin (PSDB).
Desde 2011, quando o governo do Estado passou a divulgar relatórios mensais sobre os crimes, essa foi a primeira vez que a delegacia registrou mais de mil casos em um único mês.
Nos cinco primeiros meses deste ano, houve um crescimento de 70% no número de furtos na área em relação ao mesmo período do ano passado. Na cidade inteira, o aumento foi de 3%.
Esses dados se referem apenas aos crimes relatados pelas vítimas à polícia. Historicamente, os furtos são os delitos com maior grau de subnotificação –ou seja, a vítima normalmente não vai até a delegacia fazer um boletim de ocorrência.
Por isso, o número de casos pode ser muito maior. Ou pode significar que o delito não subiu, mas passou a ser mais registrado.
Os roubos também cresceram na região. De janeiro a maio de 2016, houve uma alta de 35%. Em toda a cidade, o aumento foi de 1%.
SEM MEDO DO SELFIE
Quem circula pelos 2,6 km de extensão da via tem uma sensação de segurança maior que em outros pontos da capital, como o centro antigo.
É normal encontrar duplas de policiais militares caminhando pelas calçadas. Há guaritas da PM em pontos como o vão-livre do Masp e próximo ao Conjunto Nacional, e guardas-civis ajudam no policiamento.
Também é normal encontrar quem use o celular sem nenhum receio nas calçadas, parques e pontos de ônibus, tornando-se alvo de possíveis ladrões. Selfies e fotos de pontos turísticos são comuns.
É o caso da estudante de direito Victoria Neves, 22. Ela usa o celular naturalmente, na calçada do prédio onde faz estágio. "No centro antigo coloco o celular na mochila ou dentro da calça. Aqui [na Paulista] não tenho medo", diz.
Há alguns meses, ela foi furtada na esquina com a rua Augusta. Não fez boletim de ocorrência. "O celular foi tirado do meu bolso. Depois disso, fiz seguro de tudo."
Na região do Masp, o gerente de um bar que costuma colocar mesas na calçada conta que orienta os clientes a ficarem atentos. "Aqui tem muito roubo com o ladrão usando bicicleta."
Editoria de Arte/Folhapress | ||
MOTIVOS
A Associação Paulista Viva, que representa comerciantes e moradores, credita a alta nos crimes ao aumento do público que visita a via. Desde junho do ano passado, a avenida recebe milhares de pessoas aos domingos e feriados, quando fica aberta apenas para pedestres.
"A Paulista virou uma praia, atrai cada vez mais gente. O bandido pensa que vai ter mais clientela para roubar", diz Vilma Peramezza, presidente da associação.
Questionada, a Secretaria da Segurança Pública não informou se há relação entre os crimes na região e o fechamento da via.
Segundo Renato Sérgio de Lima, vice-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, estudos comprovam que furtos são mais frequentes em locais com maior concentração de pessoas. "Isso ocorre no mundo todo."
"O fechamento aos carros é mais positivo do que negativo para a cidade, no sentido de que as pessoas estão usando mais o espaço público. A polícia precisa ver se o problema dos crimes é grande. Se for, tem de reavaliar o policiamento da região", pondera Lima.
POLICIAMENTO
A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo afirma que as polícias Civil e Militar vêm desenvolvendo ações conjuntas para reduzir os crimes contra o patrimônio (furtos e roubos) na região da avenida Paulista e no bairro dos Jardins (zona oeste). As áreas são responsabilidade do 78º Distrito Policial.
De acordo com a pasta, o policiamento foi reforçado na região e "resultou no aumento da produtividade policial". Nos cinco primeiros meses deste ano, segundo a secretaria, foram detidas 548 pessoas em flagrante –21,2% a mais do que em 2015.
No mesmo período, também foram apreendidas dez armas de fogo e recuperados 22 veículos roubados, diz a pasta.
Em junho passado, de acordo com o governo, a Polícia Civil prendeu uma quadrilha de dez pessoas que praticava roubos nos arredores do bairro.
Desde quarta-feira (20), a Folha tenta entrevistar o delegado responsável pelas investigações e o comandante da Polícia Militar responsável pelo policiamento da área da avenida Paulista. A Secretaria da Segurança Pública afirmou que eles não estavam disponíveis.
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