TJ reforça que 'bandido bom é bandido morto', diz sobrevivente do Carandiru
Niels Andreas/Folhapress | ||
Corredor alagado de sangue no pavilhão 9 do Carandiru, após a intervenção da Polícia Militar |
Ao ouvir as palavras "legítima defesa", o pastor evangélico Sidney Francisco Sales deu um sobressalto do outro lado da linha.
"Como assim? Aquilo foi um extermínio, como em Auschwitz [o campo de concentração nazista onde judeus foram exterminados] ou no Camboja [nos anos 1970, quando houve massacres de centenas de pessoas em um mesmo dia]", diz um dos sobreviventes do episódio que ficou conhecido como massacre do Carandiru.
Na terça (27), o Tribunal de Justiça de São Paulo decidiu anular a condenação de 74 policiais envolvidos no ataque.
Em 1992, invasão da polícia para coibir uma rebelião deixou 111 presos mortos e corredores e escadas do presídio inundados de sangue. "Todos foram executados, não havia ninguém armado. Todos acabaram condenados novamente, porque estavam ali cumprindo suas penas e acabaram mortos", diz Sales.
No momento da invasão da polícia, ele estava no quarto andar do pavilhão 9. Ele fazia parte da equipe da faxina e da distribuição de comida. Sobre a decisão do TJ, Sales foi avisado nesta quarta (28) cedo, pela própria reportagem. "Não estava sabendo não. Mas ela ajuda a reforçar a tese de que bandido bom é bandido morto", diz o pastor.
Hoje, entre palestras sobre sua vida, Sales coordena algumas unidades de recuperação de viciados em drogas. "Temos 200 pessoas em Vargem Grande Paulista, Campo Limpo e Jundiaí. E outros 50 já com carteira assinada", diz.
O pastor, que entrou no Carandiru após ser condenado por roubo de cargas aos 19 anos, em 1989, ficou paraplégico depois de ser baleado por um desafeto quando saiu da Casa de Detenção. Chegou a ser preso outra vez, viciou-se em drogas e, então, nos anos 1990, depois de ser novamente solto, passou cinco anos numa clínica de reabilitação.
No dia do massacre, ele teve que ajudar a carregar os corpos dos mortos e quase foi executado por PMs antes de eles saírem do pavilhão.
Sales não condena exatamente os próprios policiais, que estavam ali cumprindo ordens, segundo ele. Mas sim o coronel Ubiratan Guimarães e o diretor do presídio na época, Ismael Pedrosa. "Eles nunca foram condenados pela justiça dos homens. Foram eles os responsáveis pelas mortes. Mas acabaram condenados pela justiça divina", diz Sales. Os dois morreram assassinados.
"Faltou habilidade para contornar a rebelião", diz.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
Clique para ler |
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade
Acompanhe toda a cobertura dos blocos, festas e desfiles do Carnaval 2018, desde os preparativos
Tire as dúvidas sobre formas de contaminação, principais sintomas e o processo de imunização
Folha usa ferramenta on-line para acompanhar 118 promessas feitas por Doria em campanha