Ao lado da fama, psicloga estimula potencial do pas
Entidade que nasceu em 1994 pelas mos da irm do piloto Ayrton Senna desenvolve, aplica e multiplica tecnologias sociais que ensinam a transformar sonhos em realidade
"Voc famosa?", pergunta uma criana. "No, meu irmo que ", responde Viviane Senna, 48, psicloga e empreendedora.
No verdade. As pessoas falam dela. Falam muito, mas no a conhecem. S o que se sabe de Viviane que ela tem dinheiro, que irm de Ayrton e que no passa seus dias entregue a futilidades. Mas o que exatamente faz essa mulher ningum sabe dizer.
fcil falar que ela faz porque rica. Muitos tm dinheiro. bvio dizer que para ela tudo mais simples, j que o sobrenome Senna uma engenhosa chave mestra. verdade, mas de nada vale um sobrenome sem um sonho.
O sonho o que Ayrton lhe assoprou dois meses antes de morrer, mas que j era dela. tambm uma angstia forte, intensa, que vem da certeza de que possvel mudar. No pas, Viviane enxerga o potencial que v nas crianas.
"Com tudo o que o pas tem e , inaceitvel que no possa dar certo. Temos 500 anos no dando certo. Isso responsabilidade nossa. Fomos uma elite irresponsvel, focada nos prprios interesses, de costas para o Brasil, voltada para a Europa e para os EUA."
O desavisado pode se surpreender: Viviane Senna no uma dondoca. "Nunca tive tempo para ser", diz. "Ter dinheiro no torna a coisa fcil, no significa nada. O governo, por exemplo, tem muito dinheiro. O problema o que se faz com isso. Eu poderia sentar dez minutos por semana e assinar um monte de cheques, distribu-los por instituies. Depois, iria passear no shopping, esquiar nos Alpes. Dez minutos. Mas no acredito que isso ajude."
Os gestos delicados e os olhos expressivos (marejados quando falam de sonhos) revelam uma firmeza impressionante. Tudo em Viviane refletido, pensado, mas no por falta de espontaneidade. H nela uma necessidade de tomar as rdeas de tudo -pelo menos, do que possvel tomar.
O acidente que matou Ayrton em 1994 mudou a vida da psicloga introvertida. Tirou-a de seu cantinho seguro, no qual se refugiava desde os tempos de pequena, do colgio de freiras em So Paulo. Naquele mesmo ano, fundou o Instituto Ayrton Senna.
Dois anos depois, ficou viva. Me de trs filhos, manteve o ritmo alucinante de trabalho que a faz se esquecer de si mesma. A tarefa que ela prpria se imps rdua: de atacado, no de varejo.
O instituto como Viviane. S o que se sabe dele que beneficia muitas crianas e adolescentes. O que ele faz de fato ningum sabe.
A entidade fabrica tecnologias sociais, estratgias para desenvolver o potencial das pessoas. O esporte, a arte e a informtica so instrumentos para o mesmo fim: ensinar a sonhar, e a fazer os sonhos se tornarem realidade.
As tecnologias desenvolvem competncias pessoais (ter projeto de vida, auto-estima), sociais (aprender a ouvir o outro, respeitar limites, regras e diferenas), cognitivas (ler, fazer clculo, transformar informaes em conhecimento) e produtivas (saber gerenciar, planejar, organizar-se para o mundo do trabalho).
"O Brasil jamais vai esquecer o Ayrton Senna. E dela [Viviane] vai ser difcil eu me esquecer", diz Thiago Britto, 15, sobre uma mulher que ele mal conhece, que s viu uma vez. A verdade que ele sabe o que ela faz. E s essa fama que interessa a Viviane.