Maior legado do time do Santos foi promover o Brasil, diz Pelé
Há exatamente 50 anos, o Santos obteve um feito inédito àquela altura na história do futebol.
Ao superar o Milan, da Itália, em uma disputa que se estendeu por três partidas, tornou-se o primeiro clube bicampeão do mundo.
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Pelé só participou do primeiro jogo, a derrota por 4 a 2, em Milão, na Itália, com dois gols seus. Com uma lesão muscular na coxa esquerda, foi substituído por Almir (1937-1973) nas duas partidas seguintes no Maracanã.
MAIS BICAMPEÕES |
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Pepe, o Canhão da Vila |
Coutinho, o gênio da área |
Mengálvio, o craque da meia |
Lima, o curinga |
Dalmo, segurança na defesa |
Nesses dois jogos, o Santos deu o troco: 4 a 2 e depois 1 a 0, placar que garantiu a taça.
Nesta entrevista à Folha, que encerra a série de textos sobre o título do Santos de 1963, Pelé afirma que o maior feito daquele time foi promover o Brasil no exterior, inclusive entre povos que nada sabiam sobre o país.
*
Folha - No Mundial de 1963, o senhor jogou somente a primeira partida na Itália...
Pelé - Joguei o primeiro na Itália e todos antes de chegar ao Mundial [risos]. Não é preciso dizer o que o Santos fez de promoção para o Brasil. O Santos dignificou nosso país nessa década. Em alguns lugares onde fomos, ninguém sabia onde era o Brasil, onde era Santos. Jogamos na Europa, na África e na Ásia... O Santos chegava e fazia promoção do nosso Brasil. O grande legado que o time deixou foi esse. Nessa época, não havia tantas TVs como hoje. Naqueles tempos, a promoção era boca a boca [risos]. Então, reviver esse momento e mostrar às novas gerações o que a gente fez pelo país e não só pelo Santos é uma alegria muito grande.
Tem alguma lembrança do jogo com o Milan, na Itália?
O que me deixa mais saudoso é o convívio entre os jogadores do time. A gente fazia muitas viagens de ônibus. Fazíamos brincadeiras que ninguém imagina. A viagem de avião para a Itália foi assim. A alegria era permanente, a gente cantava, fazia piadas. Era um jogo importante, mas a alegria estava presente.
Ficou chateado por não jogar as finais no Maracanã?
Depois de tantos anos e títulos pelo Santos, chegar à final no Maracanã e não poder jogar... Até falei: "Meu Deus, o que está acontecendo?" [risos]. Mas, eu fui ver o jogo e, com a vitória, fiquei tranquilo. Claro que queria estar na final, ter feito gol de bicicleta, de cabeça, mas Deus foi tão bom comigo que me deixou ver o jogo e o time ser campeão de camarote [risos].
O Santos foi campeão do mundo no Maracanã, algo que faltou para a seleção brasileira.
Depois de a seleção ter tido a infelicidade de perder o Mundial de 1950, houve a alegria de um time brasileiro sair campeão do mundo no Maracanã. Nosso título não repôs a Copa de 1950, mas deixou o brasileiro com um gostinho de campeão.
É possível imaginar um time brasileiro repetir o feito obtido pelo Santos?
Realmente o que o Santos conseguiu, não só com esses dois títulos, mas nas excursões pelo mundo, será difícil. Conseguimos até parar uma guerra [em 1969, em amistoso na Nigéria, interrompeu uma guerra civil], expulsar um juiz na Colômbia [amistoso, em 1968]. Aliás, essa é uma das histórias de que não me esqueço. Depois de o juiz já ter me expulsado, eu estava no vestiário e me falaram para voltar. "Como vou voltar? Ele me expulsou?". "Vamos tirar o juiz, e o bandeirinha vai apitar o jogo", responderam.
O que significou esse reencontro com os bicampeões?
É um prazer. Tenho de agradecer a Deus por estar com saúde, reviver isso.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
Infográfico mostra como estão hoje jogadores que conquistaram o título do Mundial de Clubes em 1963 |
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