'Ainda estamos dez anos atrasados em relação à Europa', diz técnico campeão de handebol
O principal personagem do título mundial da seleção feminina de handebol não estava em quadra.
Do banco, o dinamarquês Morten Soubak, 49, foi o condutor da surpreendente campanha.
- Apenas 20ª há dez anos, seleção feminina de handebol dá salto até título inédito
- Atleta da seleção campeã de handebol sofreu AVC um ano atrás
Apesar das comemorações, ele não se ilude. "Ainda há um longo caminho a percorrer", afirmou Soubak à Folha, minutos depois da conquista do Mundial na Sérvia.
Ele se refere à distância que existe entre o handebol praticado no Brasil e o jogado em países que compõem a elite do esporte no mundo.
Soubak fala com a propriedade de quem chegou ao Brasil em 2005, quando foi contratado para comandar o time masculino do Esporte Clube Pinheiros, em São Paulo.
Quatro anos depois, passou a comandar a seleção feminina. E, ontem, levou-a à inédita conquista internacional.
*
Folha - Em 2009, ano em que o senhor assumiu a seleção, ela foi 15ª no Mundial. Quatro anos depois, é a campeã. Qual é o sentimento pela façanha?
Morten Soubak - Tudo se deve às jogadoras. A dedicação, o brilho, a garra, tudo se deve ao esforço delas. Nós temos um grande grupo.
No Brasil, o handebol é muito praticado nas escolas, mas não há uma massificação de atletas de alto rendimento. Por que isso ocorre?
Estou na seleção desde 2009, então não respondo pelo passado. A verdade é que ainda dependemos de atletas, como essas meninas, que vão para o exterior evoluir. Ainda estamos dez anos atrasados em relação à Europa.
O senhor acredita que a distância ainda é tão grande?
Sem dúvida. É muito difícil achar um talento que saia da escola e vá para o alto nível. E, quando ele aparece, é mais comum que seja no masculino que no feminino.
Como isso pode melhorar?
Nossas ligas nacionais ainda estão muito, muito longe do nível das europeias. Precisamos fortalecê-las. Há um longo caminho a percorrer. Mas há pessoas dedicadas ao handebol no Brasil, e tomara que esse título ajude a abrir o olho de outros para o esporte.
O senhor é bem realista.
O que quero é ver o Brasil produzir jogadoras de alto nível dentro do país. No Brasil, a maioria dos jovens que conheço começam a praticar handebol com 12 anos. Na Europa, a formação vem antes. Já viu um craque do futebol que começou com 12 anos? Não tem. Inicia muito antes.
O senhor continuará à frente da seleção até a Rio-2016?
É o que mais me perguntam no meu país. Ainda não sei como vai ser. Meu contrato termina no ano que vem. Claro que quero ficar, mas não sei como é a cabeça da confederação. Mas, como o projeto é até a Olimpíada de 2016, acredito na renovação. Vamos sentar e conversar.
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade