As boas atuações dos meias Lucas Lima (Santos) e Dudu (Palmeiras), a solidez da zaga formada por Geromel (Grêmio) e Rodrigo Caio (São Paulo), a fraca participação de Robinho (Atlético-MG)... Tudo isso parecia secundário ao fim do amistoso desta quarta (25).
Ao descer a rampa do Engenhão, no Rio, após o jogo vencido pelo Brasil por 1 a 0, contra a Colômbia, um pensamento me acompanhava –e não estava ligado a este ou aquele desempenho individual.
A torcida ainda está distante da seleção brasileira. Nos últimos anos, tornou-se evidente que o entusiasmo do torcedor com a equipe nacional tem se arrefecido e, assim, mantém-se aquém da ligação do fã com o seu clube.
Quem não se lembra de Brasil versus México na Copa de 2014, quando a torcida rival, embora menos numerosa, demonstrou mais veemência no apoio ao seu time, com vigorosos gritos de guerra?
No entanto, era razoável esperar que essa relação entre seleção e torcedor começasse a mudar com o excelente desempenho de Tite à frente da equipe, com sete vitórias em sete jogos. Não foi o que se viu no Engenhão.
A constatação advém não apenas do decepcionante público presente (pouco mais de 18 mil), mas também pelo escasso engajamento daqueles que estavam nas arquibancadas.
Arrisco algumas hipóteses para a baixa adesão nesse amistoso: a ausência de estrelas europeias, como Neymar; o fato de ser um amistoso; a opção pelo Engenhão em vez do Maracanã, fechado devido a impasse judicial; o preço dos ingressos –o mais barato custava R$ 70. Mas há razões históricas, como os efeitos do 7 a 1 e a baixa frequência com que a seleção joga se comparada aos clubes, o que dificulta o processo de identificação com o time nacional, uma das consequências do poder crescente dos clubes na geopolítica do futebol.
Em suma, os torcedores foram ao estádio para ver a seleção e homenagear a Chapecoense, mote do amistoso. Mas, em geral, torciam mesmo pelo Flamengo e pelo Botafogo.
Por que essa rivalidade se impôs no Engenhão, e não Fla x Flu, por exemplo? Além de mais popular time do país, o Flamengo tinha quatro jogadores convocados por Tite: o goleiro Alex Muralha, o lateral Jorge, o volante William Arão e o meia Diego. O Botafogo contava apenas com o meia Camilo na lista do técnico, mas estava em casa. É o time que administra o Engenhão, chamado oficialmente de estádio Nilton Santos.
No primeiro tempo, Arão, 24, esteve no centro do palco, ainda que não tivesse atuado especialmente bem ou mal. Bastava o fato de ser o único flamenguista a ter começado como titular. E justamente ele, que se transferiu para o rubro-negro após deixar o Botafogo contra a vontade da direção do time alvinegro.
A bola passava pelos seus pés, e os aplausos e vaias ecoavam com força.
Foi dele, aliás, um dos principais lances do primeiro tempo, quando chutou sobre o gol do colombiano David González. Os flamenguistas enalteceram o jogador: quase foi gol. Botafoguenses, não: só Arão para errar um gol como esse.
Logo no início do segundo tempo, Dudu marca de cabeça. A torcida se anima de um modo curioso. Na falta de um grito de guerra próprio, começa a cantar: "Vamô, vamô, Chapê". É justa a homenagem, mas soa estranha, fora de lugar após um gol do Brasil. Sem saber como celebrar, a Chape vira a saída para o torcedor.
No segundo tempo, Tite dá um presente aos flamenguistas, colocando em campo Diego e Jorge, e também aos botafoguenses, com a entrada de Camilo. É esse último quem, de fato, brilha. Em sua estreia na seleção, o meia de 30 anos mostra a confiança de quem sempre vestiu a camisa amarela.
Os botafoguenses –alguns com a peruca que imita a a cabeleira de Camilo– deliram quando ele dribla o colombiano Berrío, que deve ser contratado pelo Flamengo. Em campo, vitória do Brasil. Na arquibancada, venceu o Botafogo. Camilo, afinal, estava em casa.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.