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Repórter relata como foi acompanhar jogo do Brasil às cegas durante voo

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Sabia que perderia o começo do jogo do Brasil, no máximo o primeiro tempo. Pelo horário do voo (saída do Rio às 11h17, chegada a Porto Alegre às 13h25) e pelo histórico das várias viagens durante a Copa até ali –nenhuma com atraso–, nem me apoquentei.

O aviso nos monitores de que o voo atrasaria "pelo menos uma hora" mexeu com os passageiros. E atrasou bem mais que uma hora, o que permitiu ao menos vermos parte do primeiro tempo na sala de embarque, o gol brasileiro (David Luiz ou contra?) inclusive.

Dentro do avião, foram três horas de tensão. Meia hora parados, aguardando um comissário que faltava. O gol do Chile vi pelo Twitter, o início do segundo tempo deu pra filar no celular de um passageiro vizinho com 4g que segurou uma transmissão aos trancos.

Antes da decolagem, um rumor e muitos gritos: gol do Brasil. De Hulk. Foi anulado. Não foi. Foi, não foi, foi, não foi. Foi.

Voamos às 14h15. Daí pra frente, trevas, agonia e jogo de adivinhação.

Especulações espocaram. "Se não avisaram nada ainda pelo alto-falante é porque perdemos", pensou alto um. "Os passageiros já estão revoltados com o atraso. Se contam que o Brasil perdeu, vão quebrar tudo", fantasiou outro. "Mas um amigo me disse que, no outro jogo do Brasil, estava num voo e não informaram nada", tranquilizou um terceiro. "Ah, bom", suspirou por fim minha vizinha de poltrona.

Em meio à tensão crescente, um comissário é flagrado na entrada da aeronave fazendo um gesto, os dois indicadores levantados. "Empatou, foi um a um", interpretaram vários. Foi, não foi, foi, não foi. Levantei para perguntar. Foi. Prorrogação.

De repente a comandante Elisa surge no sistema de som e, como se nada estivesse acontecendo, põe-se a dar informações sobre o voo, a rota, o clima e a pedir desculpas pelo atraso. No finzinho do informe, solta: "Aos que estiverem interessados –pois já chegaram vários pedidos de passageiros aqui na cabine–, fomos informados pela torre que Brasil e Chile empataram em 1 a 1 e o jogo foi para a prorrogação."

Falou isso sem alterar a voz, como se desse mais uma informação sobre a rota. Para pilotar Boeings e dar uma notícia dessas desse jeito, a comandante Elisa deve ser uma mulher muito fria e séria, pensei.

Trevas novamente. A cada sinal sonoro que antecedia os avisos, apreensão, seguida de muxoxos: "Senhores passageiros, estamos passando por uma zona de turbulência, favor atendam aos avisos de atar cintos...".

Só muito tempo depois, uma eternidade, volta a comandante Elisa. "A torre em Porto Alegre acaba de nos avisar que terminou 1 a 1 e o jogo vai para os pênaltis." Um suspiro coletivo pôde ser ouvido (Medo? Alívio? Decepção?).

Vários passageiros se levantam, um boteco se instala nos ares. "Felipão avisou que era o adversário mais difícil", conforma-se um. "Se está assim com o Chile, imagina quando pegarmos Holanda ou Alemanha", reclama outro.

O avião parece se preparar para descer. Sinal sonoro, apreensão. "Senhoras e senhores, mantenham os cintos de segurança afivelados, estamos passando por uma área de instabilidade." Estávamos mesmo.

Mais alguns segundos, volta a comandante Elisa, a voz inflexível: "Júlio César defendeu dois pênaltis, William perdeu um e por enquanto o Brasil está ganhando". Palmas contidas se espalham pelo avião. "Que jogão", diz a minha vizinha. O filho dela dorme feito um anjinho com a cabeça em seu colo, alheio ao terror geral.

"Tripulação, preparar para o pouso. Temperatura em Porto Alegre, 18 graus."

Como estará agora a comandante Elisa, com a responsabilidade de pousar um avião lotado com uns 200 passageiros e ao mesmo tempo ser a única capaz de acompanhar e dar informações sobre um épico que nos próximos dias interferirá na vida de 200 milhões, especulo.

Faltando quatro minutos para as 16h, a comandante Elisa avisa, inabalável: "O Brasil passou de fase. O Chile chutou o último pênalti na trave. David Luiz, Marcelo e Neymar acertaram suas cobranças, William e Hulk perderam. É isso aí, vamos para a próxima, bom pouso a todos". Foi a máxima emoção a que a comandante Elisa se permitiu.

Quando o Boeing pousou, às 16h17, com três horas de atraso, chovia em Porto Alegre. Os passageiros bateram palmas, e gritos de "Brasil" e "Júlio César" explodiram pelo avião.

O caos aéreo apareceu, pela primeira vez na Copa para mim. Mas quem se importava? Júlio César nos salvou e salvou a pele da Gol.

Obrigado, Júlio César, devo confessar que não botava fé em você, sorry. (Tenho dúvidas se passarei a acreditar, mas deixa quieto.)

E obrigado, comandante Elisa.

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