Em Pomerode (SC) se fala alemão em casa, mas a torcida é pelo Brasil
Na cidade mais alemã do Brasil, os brasileiros têm sobrenome alemão, as pessoas conversam no idioma europeu em casa e aprendem o português na escola, mas a torcida para a semifinal da Copa do Mundo desta terça-feira (8), entre Brasil e Alemanha, é majoritariamente canarinho.
A maioria dos moradores da pequena Pomerode, cidade de 30 mil habitantes no interior de Santa Catarina (a 170 km de Florianópolis), torce para a seleção brasileira, mas não vê nenhum problema se a alemã se classificar para a final.
"Eu torço para o Brasil, mas, se a Alemanha ganhar, vou passar a torcer para eles e não vou ficar triste", diz Raquel Zilz, 26. "Sou brasileira, mas não nego as raízes", diz a estudante de turismo loira e de olhos azuis cujos tataravós vieram da Pomerânia em 1866. Os primeiros imigrantes chegaram à região em 1850.
"Português eu só aprendi na escola", diz Pablo Gaedtke, 18, que trabalha em uma empresa de contabilidade e vai torcer para o Brasil. "Só não sei o placar. O que importa é o Brasil ganhar".
Encravada no "Vale Europeu", no nordeste de Santa Catarina, Pomerode tem o alemão oficialmente como a sua segunda língua. Mais da metade da população fala o idioma, cerca de 90% dos habitantes é descendente de alemão e a escolinha de futebol da cidade tem o mesmo nome do atacante da seleção europeia: Müller.
Lucas Sampaio/Folhapress | ||
Portal da entrada sul de Pomerode (SC), cidade conhecida como "a mais alemã do Brasil" |
TORCIDA ETÍLICA
Na cidade, dois bares que disputam a atenção da torcida: um que concentra os torcedores da Alemanha e outro, do Brasil.
Os primeiros vão no bar da microcervejaria Schornstein ("Chaminé de Pedra", em alemão), que fica na parte da frente da fábrica e transmite os jogos das duas seleções em um telão montado especialmente para a Copa do Mundo.
"É um diferencial, dentro do Brasil, ter uma torcida para a Alemanha", diz o gerente Maurício Nienow, 38, no bar que tem lugar para 80 pessoas sentadas e é decorado com as cores das duas seleções. "Os descendentes de alemão, turistas e simpatizantes vêm ao bar para torcer tanto para os dois países".
No bar dos brasileiros, no portal norte da cidade, a decoração é só verde e amarela, o telão é colocado só em jogos do Brasil e o público é maior –cerca de 200 assistiram aos jogos das oitavas e das quartas de final.
O proprietário, James Utpadel, 47, conversa em alemão com a mulher e os dois filhos em casa, mas torce para a seleção canarinho. "Para mim é mais fácil falar em alemão do que português", diz o empresário, com um forte sotaque. "Mas vai ser 2 a 0 para o Brasil, com dois gols do Fred", diz um otimista James. "Eu sou Fluminense e sempre, no final, o Fred salva".
Lucas Sampaio/Folhapress | ||
Detalhe do portal da entrada sul de Pomerode (SC), cidade conhecida como "a mais alemã do Brasil" |
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