Família de bicheiro volta ao comando de escola do Rio
Sobrinho de Castor de Andrade, chefe do jogo do bicho morto em 1997, é o patrono da Mocidade
Todas as decisões da escola, como a escolha de Claudia Leitte como rainha de bateria, passam pelo herdeiro
Quem entra na quadra da Mocidade Independente de Padre Miguel e olha para o alto logo percebe que o escudo, iluminado por várias lâmpadas, agora vem acompanhado por um castor.
O animal, que nos anos de 1980 e de 1990 era símbolo de poder do bicheiro Castor de Andrade, "capo" do jogo e do samba, agora volta à escola pelas mãos de seu sobrinho Rogério de Andrade, 51.
Ele tenta deixar para trás os processos a que respondeu na Justiça, acusado de patrocinar mortes na guerra pelo controle do caça-níquel, e dar fôlego ao domínio dos bicheiros ao Carnaval.
Afinal, os colegas de Castor que comandam hoje a festa estão octogenários e sem sucessores estabelecidos. Entre as 12 escolas que desfilam no Grupo Especial do Rio, domingo (15) e segunda (16), apenas outras três terão enredos pagos pelos bicheiros: Imperatriz Leopoldinense, Beija-Flor e Grande Rio.
No período pré-Carnaval, Andrade fez silêncio: "Ele não tem cargo na escola e não tem interesse em aparecer na mídia", informa a assessoria de imprensa da Mocidade.
"A presença de um patrono é importante. Ele faz parte de uma equipe onde todas as decisões são em conjunto", afirma Rodrigo Pacheco, vice-presidente da escola.
Em 1997, após o infarto que matou Castor de Andrade, a Mocidade, bem como o espólio do bicheiro, passou a ser disputado pelos herdeiros. O filho Paulo Andrade, o Paulinho, foi assassinado em 1998.
Rogério de Andrade foi apontado como o mandante. Em 2014, o Tribunal de Justiça do Rio o inocentou.
Em meio ao processo, em 2002, Paulo Vianna ganhou a eleição para a presidência e afastou a família Andrade do controle da escola. Até que, em 2008, Diogo, filho de Rogério, pediu ao pai a volta do clã ao Carnaval.
Em 2010, uma bomba colocada sob a Toyota Hilux de Rogério explodiu, em plena Barra da Tijuca, matando Diogo, então com 17 anos.
No ano passado, Rogério decidiu homenagear o filho e retornar à Mocidade.
Faltando 27 dias para o Carnaval de 2014, ele e um grupo de seguranças se trancaram numa sala com a diretoria. Presidente havia 12 anos, Vianna foi afastado.
A escola ficou em nono lugar. Já na Quarta-feira de Cinzas começou o planejamento para 2015. A primeira medida foi contratar o carnavalesco Paulo Barros, campeão pela Unidos da Tijuca.
Depois, colocou em dia os salários. Em julho, se reuniu com os diretores de ala e avisou: "Vou dar o que vocês precisarem. Agora, quero nota dez. Quem tirar 9,9 está fora da escola em 2016", disse.
Todas as decisões passam por Rogério. Aprovou a contratação da cantora Cláudia Leitte como rainha de bateria e o aumento da participação da comunidade no desfile.
Das 32 alas, só 13 são comerciais, nas quais as fantasias são vendidas para indivíduos ou empresas. Em 2014, eram 25.
"Viemos resgatar a Mocidade", diz Pacheco.