Crítica teatro/drama
Crítica social compensa farofada cênica de trama sobre mendigos
Por seus excessos e pelo espírito juvenil, "SPon SPoff SPend" é um daqueles espetáculos que exigem doses de paciência, com recompensas para quem ultrapassar os acúmulos e a poluição de referências e recursos.
Na farofada cênica do grupo Maracujá Laboratório de Artes, vai Brecht, Shakespeare, Platão, teatro de sombras, animação, sonoplastia, música ao vivo, projeções em vídeo. A gente acaba perdoando a falta de uma boa peneira quando vê as simpáticas figuras de mendigos tocando guitarra e teclado.
Com dramaturgia de Sidnei Caria e direção artística e musical de Fernando Escrich, a peça retrata as relações de poder entre mendigos de um grupo vivendo sob um viaduto de São Paulo.
Ao descartar-se a opção de apresentá-los apenas como vítimas de um modelo social, cria-se uma reflexão sobre a natureza do tempo em que vivemos, como se ricos e pobres adoecessem juntos de um mal, ainda que com prejuízo acentuado para quem está na base da pirâmide.
Há entre os personagens aquele que exerce seu poder porque é o mais velho e mais experiente, aquele que o faz trabalhando e juntando bens e planeja uma carreira religiosa, há a figura de uma moradora de rua subjugada entre eles, sendo disputada como um animal pelos machos que a cercam. Ela não reflete o papel da mulher moderna, com inserção política efetiva.
Esse grupo de mendigos vai disputar espaço com uma equipe de filmagem gravando um filme debaixo do viaduto.
A montagem perde o equilíbrio ao se debruçar sobre algumas possibilidades esgarçadas da metalinguagem, como se a representação da fábula não se bastasse, e ela se basta. Uma peça suja também não pode prescindir de peneira. Em tempo, a música de abertura é linda.
SPON SPOFF SPEND
QUANDO sex. e sáb., às 21h; dom., às 19h; até 6/9
ONDE Teatro Cacilda Becker, r. Tito, 295, Lapa, tel.: (11) 3864-4513
QUANTO R$ 20
CLASSIFICAÇÃO 16 anos
AVALIAÇÃO bom