Indústria não dá sinais de melhora e recua pelo 3º mês
Produção cai 1,2% em agosto e nem setores beneficiados pela valorização do dólar apresentam melhoras significativas
Parque produtivo se encontra em patamar similar ao de 2009, logo após a crise global, diz coordenador do IBGE
A produção industrial brasileiro completou, em agosto, o terceiro mês seguido de retração. E ainda que a queda (1,2% no volume de produtos fabricados no país em relação ao mês anterior) tenha sido menor que a registrada em julho, 1,5%, não há sinais de melhora.
O principal setor a puxar para baixo a produção foi o de bens de capital, que fabrica as máquinas utilizadas pela indústria.
Considerado um importante indicador do investimento em capacidade produtiva, o segmento registrou, em agosto, contração de 7,6%, ante o verificado um mês antes, quando a produção já havia recuado 2,1% na comparação mensal, de acordo com dados do IBGE.
No recorte anual, a produção industrial também não vai bem: queda de 9% em agosto ante o mesmo período do ano passado. Nos bens de capital, a queda chega a 33,2%.
O dado de contração da indústria é mais um que mostra a gravidade da crise econômica atual: as vendas do varejo acumulam seis meses seguidos de queda, o desemprego nacional chegou a 8,6% no período de maio a julho –1,7 ponto percentual mais do que um ano antes– e a inflação ficou em 9,53% em agosto, três pontos percentuais acima do teto da meta do governo.
Analistas consultados semanalmente pelo Banco Central estimam que a economia tenha encolhido 3,55% no terceiro trimestre ante o mesmo período do ano passado. No início deste ano, a expectativa era de alta de 0,6% do PIB (Produto Interno Bruto).
DE VOLTA A 2009
Segundo o coordenador de Indústria do IBGE, André Macedo, o parque produtivo brasileiro se encontra em patamar semelhante ao verificado em 2009, ano em que estourou a crise econômica mundial e que o país fechou com uma retração de 7,1% em sua produção industrial.
A disparada do dólar, que favorece as empresas exportadoras, ainda não se refletiu na produção industrial. Produtos muito exportados, como celulose (0,7%) e produtos alimentícios (0,1%), tiveram alta pouco expressiva.
O dólar se valorizou em 50% neste ano ante o real, mas a participação dos manufaturados nas exportações brasileiras cresceu em ritmo bem menos intenso: 37,2% de janeiro a setembro, 2,4 pontos percentuais mais que no mesmo período de 2014.
E esse aumento se deveu mais à queda nos preços internacionais das commodities, já que as exportações brasileiras de manufaturados recuaram 11% até setembro.
OUTROS SEGMENTOS
Enquanto isso, outros segmentos, além das máquinas, continuam a acumular perdas. Os bens duráveis, como carros e motocicletas, recuaram 4% em agosto.
Já os bens semi-duráveis e não duráveis, como vestuário e alimentos, caíram 0,3%, segundo Macedo, na esteira da inflação e juros altos.
"No presente momento, com os elementos que temos, não é possível enxergar uma melhora na produção industrial daqui para o final do ano", disse o técnico do IBGE.