Diretor revela comunidade rural japonesa no interior de São Paulo em filme
O diretor Paulo Pastorelo, 34, mergulhou na trajetória dos imigrantes japoneses no documentário "Tokiori - Dobras do Tempo", que estreou na sexta-feira (22/11). Mas não se trata de um relato frio dos acontecimentos. Paulo passou a sua infância em Graminha, um bairro rural perto de Marília, no interior de São Paulo, que abriga até hoje uma colônia de cinco famílias japonesas.
Seu avô era proprietário de um dos sítios do local. "Fazer o filme foi uma maneira de resgatar a história do lugar aonde eu ia nas minhas férias", diz.
Por meio da leitura de cartas, de depoimentos e de fotografias, Paulo narra a saga dessas famílias que aportaram no Brasil nos anos 1920 para trabalhar nas lavouras de café.
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Cena do documentário "Tokiori - Dobras do Tempo", de Paulo Pastorelo, que retrata uma colônia rural japonesa no interior de SP |
Muitos ainda falam um português arranhado, outros preferem a língua nativa. Como os moradores da vila se relacionaram ao longo dos anos, quase todos são parentes. O ritmo devagar dos passos no interior das casas e o ambiente calmo no exterior são respeitados pelo diretor, que alonga os planos.
Em viagens ao Japão, Paulo fez contato com parte das famílias que optou pela vida no Oriente. Os temas do filme variam entre novidades no trabalho, momento econômico do país e, principalmente, notícias dos parentes.
Shigeru Yanai escreve, em 1983, uma carta para um tio na qual revela o potencial desperdiçado pelos brasileiros por causa da indolência no trabalho. O ferreiro Takeo Okubo, que emigrou para o Brasil em 1932, aos 4 anos, lembra de quando recebeu a notícia de que o Japão havia sido derrotado na Segunda Guerra Mundial.
"Não acreditei. Todos perguntavam: será que o Japão realmente perdeu a guerra?", diz Takeo em depoimento no filme. "Os japoneses do Brasil se dividiram entre os que acreditavam na vitória e os derrotistas", completa.
O tema da participação na guerra é levantado por Paulo no documentário, mas não predomina nas discussões com os entrevistados. "A maioria acreditava realmente que o Japão não havia perdido a guerra", diz o diretor.
A história de Graminha retratada em "Tokiori" reflete o êxodo dos japoneses no país: que começam trabalhando nas fazendas de café, em contratos que costumavam durar cinco anos, em seguida arrendam terras ou conseguem comprar os seus próprios sítios, onde cultivam algodão, melancia e amendoim.
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