Filme respeita a Bíblia, diz Russell Crowe, que interpreta Noé
Antes da projeção, o ator Russell Crowe entrou na sala de exibição para cumprimentar a plateia da pré-estreia organizada pela Paramount Pictures em um cinema carioca, dez dias atrás.
"Isso não vai ser exatamente o que vocês esperam", avisou o ator, em tom irônico. Ele se referia ao filme "Noé", superprodução de US$ 130 milhões baseada em texto bíblico, que ele protagoniza e que estreia hoje no Brasil.
A sinopse, extraída do livro do Gênesis, é conhecida: Deus resolve exterminar a vida na superfície da Terra com um grande dilúvio.
Mas decide poupar Noé, um homem justo e de bom coração, que recebe a tarefa de construir uma arca para abrigar, além de parentes, um macho e uma fêmea de cada espécie animal do planeta.
Sob a direção de Darren Aronofsky ("Cisne Negro"), o estereótipo do velhinho boa-praça, amigo da bicharada, muitas vezes retratado de túnica e sandália, ganhou um tom sombrio.
Em cena, o Noé interpretado por Russell Crowe é um sujeito atormentado diante dos desígnios de Deus, com olhar de fanático religioso e desenvoltura de gladiador nos momentos de pancadaria.
Aos dilemas internos do personagem-título somam-se cenas de ação e magia que remetem a fantasias como a trilogia "O Senhor dos Anéis", de J.R.R. Tolkien.
Crowe acredita que a habilidade de Noé no campo de batalha é coerente com a história original. "A força física talvez tenha sido uma das razões que fizeram Noé ser o escolhido para esse trabalho", disse o ator à Folha.
Ele ressaltou a importância de "haver certa licença artística para tentar entender o que se passava no coração daquele homem".
Na Bíblia, o trecho sobre Noé e sua arca é sucinto. Não trata de detalhes como, por exemplo, a rotina da família dentro da embarcação após o dilúvio.
Coube aos roteiristas a tarefa de preencher as lacunas, assim como a interpretação do texto. O versículo que trazia a frase "havia naqueles dias gigantes na Terra" acabou representado por monstros de pedras com vários braços. Um deles com a voz de Nick Nolte.
POLÊMICA
Às vésperas do lançamento da produção —que foi o filme mais visto em seu fim de semana de estreia nos EUA, alcançando US$ 43,7 milhões de bilheteria—, aumentou a expectativa em torno da reação da plateia religiosa diante do tratamento hollywoodiano à história de Noé —alguns grupos de religiosos manifestaram-se contra o longa-metragem.
Em países islâmicos, antes mesmo da estreia, o longa já começou a ser banido dos cinemas. A caracterização de Noé como um personagem vai contra os fundamentos da lei islâmica.
O veto a "Noé" já entrou em vigor no Bahrein, no Catar, nos Emirados Árabes e na Indonésia.
Crowe considerou arrogante a postura daqueles que julgaram o filme antes de vê-lo.
"Acho que todos vão perceber que há um respeito no filme pela história bíblica. Acredito que, ao ver o filme, as pessoas ficarão curiosas para reler essa passagem da Bíblia. E realmente não vejo como isso poderia ser considerado algo ruim", disse.
Antes de vir ao Brasil, o ator esteve no Vaticano, onde participou de uma audiência com o papa Francisco.
"Diante da polêmica em torno do filme, considerei um ato de extrema gentileza o convite para estar na presença do papa", disse Crowe, sem revelar se chegou a ter uma conversa privada com o pontífice.
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