Análise: Intérprete único, Jair Rodrigues imprimia marca em qualquer gênero
Jair Rodrigues cantava com tanta alegria que até incomodava. Suas interpretações exageradas às vezes prejudicavam as músicas. Mas a graça, com ou sem trocadilho, estava nesse excesso.
Ele se profissionalizou em São Paulo no momento em que o estilo de João Gilberto se impunha como paradigma. E seguiu firme na direção contrária. Acertou.
Em vez de virar mais um epígono mediano de João, tornou-se um intérprete único, que imprimia sua marca a qualquer gênero: sambas, toadas e até o proto-rap "Deixa Isso pra Lá", seu primeiro grande sucesso, de 1964.
Na dupla com Elis Regina, firmou uma bossa nova 2.0: agitada, em alto volume e com toques políticos.
Aliás, se o aparentemente apolítico Jair percebeu todo o clamor que havia em "Disparada" —covencedora do Festival da Record de 1966, com "A Banda", de Chico Buarque—, não se sabe bem, mas foi sua voz quem deu à música a força necessária.
E é o que ele costumava fazer com os sambas, certamente o seu melhor terreno. Transformou o carnavalesco "Tristeza" numa beleza de qualquer estação ou estado de espírito.
E assim foi com "Triste Madrugada" e com os sambas-enredos do salgueirense Zuzuca, por exemplo.
Artista da indústria, buscou o sucesso também na seara sertaneja e em romantismos diversos.
Agora, em 2014, fez uma profissão de fé ao gravar dois CDs com o título "Samba Mesmo". O resultado foi irregular, mas a alegria era a mesma de sempre.
"O Sorriso do Jair" (título do seu disco de 1966) foi uma proposta existencial e até estética. Vai ficar para sempre.
LUIZ FERNANDO VIANNA é coordenador de internet do Instituto Moreira Salles
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade