Marília Pêra começou a atuar aos quatro anos e fez mais de 50 peças
Marília Pêra, que morreu neste sábado (5) no Rio, começou a atuar aos quatro anos de idade, ao lado dos pais, Manuel Pêra e Dinorah Marzullo, também atores, na Companhia de Henriette Morineau, "Os Artistas Unidos".
Seu primeiro papel foi o de uma das filhas de Medeia na peça de mesmo nome, de Eurípedes.
Tony Goes: Marília Pêra foi a mais completa atriz brasileira
'Ela era um luxo', diz Ney Latorraca; Dilma e artistas lamentam morte
Nascida no Rio, em 1943, Pêra atou em mais de 50 peças, quase 30 filmes e cerca de 40 novelas, minisséries e programas de televisão, além de dirigir, coreografar e produzir espetáculos.
Divulgação | ||
Fernando Ramos da Silva e Marília Pera em cena de "Pixote - A Lei do Mais Fraco" (1980), filme de Hector Babenco |
No teatro, eternizou suas interpretações de Carmen Miranda em montagens como "A Pequena Notável" (1966); "Um Tributo a Carmen Miranda", no Lincoln Center, em Nova Iorque (1975), "A Pêra da Carmen", em 1986 e 1995; e em "Marília Pêra Canta Carmen Miranda" (2005).
Seus personagens biográficos ainda incluem a cantora Dalva de Oliveira, em "A Estrela Dalva", em 1987; Maria Callas na peça "Master Class", em 1996; e a estilista Coco Chanel, na peça "Mademoiselle Chanel", em 2004.
Ainda esteve em "Roda Viva" (1968), de Chico Buarque, "Se Correr o Bicho Pega" (1966), de Oduvaldo Vianna Filho e Ferreira Gullar, "Onde Canta o Sabiá" (1966), de Gastão Tojero, "A Ópera dos Três Vinténs" (1964), de Bertolt Brecht e Kurt Weill e "A Megera Domada" (1967), de William Shakespeare, e mais recentemente no musical "Hello, Dolly!", com Miguel Falabella.
Ganhou diversos prêmios ao longo da carreira, como o da APCT (Associação Paulista de Críticos Teatrais), o Mambembe e o Moliére — este último venceu três vezes. A primeira foi em 1969, por "Fala Baixo Senão eu Grito", que também produziu. A segunda, em 1974, por sua atuação em "Apareceu a Margarida", de Roberto Athayde, e a terceira, em 1984, por "Brincando em Cima Daquilo", de Dario Fo.
NA TELINHA E NA TELONA
Na televisão, passou pelas emissoras Globo, Tupi, Manchete e Bandeirantes. Em 1965, foi escalada para fazer parte do elenco que inaugurou a TV Globo, emissora onde fez história. Viveu Carolina de "A Moreninha" (1965), esteve em "Rosinha do Sobrado" (1965) e "Padre Tião" (1965/1966). Voltou à TV Tupi em 1968 no elenco da novela "Beto Rockfeller", trama com linguagem revolucionária para a época.
A convite de Daniel Filho, retornou à Globo em 1971 para assumir a personagem Shirley Sexy, na novela "O Cafona", de Bráulio Pedroso, em que atuou ao lado de Francisco Cuoco. Foi o papel que a tornou mais popular entre o público brasileiro.
Em sua carreira na Globo, participou de 19 novelas, entre elas: "Brega & Chique" (1987), Cassiano Gabus Mendes, "Rainha da Sucata" (1990), de Silvio de Abreu, "Lua Cheia de Amor" (1991), de Ricardo Linhares, "Duas Caras" (2007), de Agnaldo Silva, e o remake de "Ti-Ti-Ti" (2010), de Maria Adelaide Amaral. Está no ar com a série "Pé Na Cova", de Miguel Falabella.
Falabella preparava um novo projeto na emissora, a série "Negócios da Família", que teria Marília como protagonista. Ela interpretaria a mulher de um político corrupto que perde todas as mordomias e se transforma em uma golpista, que mata milionários para ficar com suas fortunas.
No cinema, alguns destaques de sua carreira foram "Pixote: A Lei do Mais Fraco" (1981), de Hector Babenco, "Bar Esperança" (1983), de Hugo Carvana, "Tieta do Agreste" (1995), de Cacá Diegues, e "Central do Brasil" (1996), de Walter Salles. Ainda esteve em "Anjos da Noite" (1986), de Wilson Barros, e "O Viajante" (1998), de Paulo César Saraceni.
BALÉ E BASTIDORES
Como diretora e produtora, seu trabalho mais recente foi a peça "Callas" (2014), com Claudia Ohana no papel da cantora. Produziu "Fala Baixo Senão Eu Grito" (1969), "Apareceu a Margarida" (1973), "Adorável Júlia" (1983) — que também co-dirigiu — entre outros espetáculos.
Artista completa, Marília era talentosa no canto e no balé. Dos 14 aos 21 anos atuou em musicais e revistas como "Minha Querida Lady" (1962), protagonizado por Bibi Ferreira, e "O Teu Cabelo Não Nega" (1963), em que repetiu um de seus papeis mais recorrentes, o de Carmen Miranda.
Dirigiu, coreografou e produziu "O Mistério de Irma Vap" (1986), de Charles Ludlam, que ficou anos em cartaz com Marco Nanini e Ney Latorraca.
SAMBA-ENREDO
Zanone Fraissat-15.fev.2014/Folhapress | ||
Marília Pêra no desfile da escola de Samba Mocidade Alegre no Sambódromo do Anhembi, em SP |
No Carnaval de 2015, Pêra foi a homenageada da escola de samba Mocidade Alegre, no Sambódromo do Anhembi, em São Paulo.
A Mocidade abordou a trajetória e a vida da estrela nacional com o samba: "Nos palcos da vida, uma vida no palco, Marília!".
As alas da escola contaram a história desde o nascimento da atriz e a sua dedicação ao balé até a carreira no rádio, passando pelas suas interpretações marcantes.
FAMÍLIA
Em 1959, a atriz se casou com o ator Paulo Graça Mello, com quem teve um filho dois anos depois, Ricardo, também ator e cantor.
Na década de 1970, foi casada com o ator Paulo Villaça e com o escritor e produtor Nelson Motta, pai de suas filhas Esperança, nascida em 1978, e Nina, nascida em 1980. Deixa viúvo o economista Bruno Faria, com quem era casada desde 1998.
Cynthia Salles/Divulgação/TV Globo | ||
Marília Pêra com o filho, Ricardo Graça Mello, em "Pé na Cova" |
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade