Cinemateca voltará a receber filmes para preservação, afirma secretário
A Cinemateca "não está mais no tubo, já está tomando sol na porta de casa e até o meio do ano alçará voo". A afirmação é de Pola Ribeiro, que desde março de 2015 é titular da SAV (Secretaria do Audiovisual), órgão ligado ao Ministério da Cultura e responsável, entre outras funções, por gerir a instituição que preserva o cinema.
"Já em março a Cinemateca poderá voltar a receber filmes para a preservação", diz Ribeiro à Folha, após anunciar os novos programas da secretaria num painel durante a 19ª Mostra de Cinema de Tiradentes.
Segundo o secretário do Audiovisual, até junho a Cinemateca contará com cerca de 40 funcionários no quadro para atender às demandas da entidade - há três anos havia quase o triplo. Hoje, são bem menos do que 40, mas o secretário não sabe precisar o número.
Leo Lara/Universo Produção | ||
O secretário Pola Ribeiro durante a 19ª mostra de cinema de Tiradentes |
Os cortes, que paralisaram algumas das atividades do órgão (que guarda cerca de 44 mil títulos do cinema brasileiro) foram resultado de uma crise por que passa a Cinemateca desde janeiro de 2013.
Na época, a então ministra da Cultura, Marta Suplicy, exonerou Carlos Magalhães da diretoria da instituição, que fica na Vila Clementino, zona sul de São Paulo, e congelou repasses à SAC (Sociedade Amigo da Cinameteca), entidade sem fins lucrativos que contratava os funcionários, após a Controladoria-Geral da União abrir uma auditoria para investigar o convênio entre a pasta e essa entidade.
Isso abriu uma crise sem precedentes na Cinemateca e afetou a preservação: parte das atividades foram interrompidas (a biblioteca e uma das salas de projeção foram fechadas), houve demissões, troca-troca de diretores (hoje é Olga Futemma, no posto desde maio) e passou-se a estudar a criação de uma OS (Organização Social) para gerir a Cinemateca.
O formato e a definição desta OS, porém, se arrasta desde a gestão Marta.
"O processo de discussão rendeu bem mais do que gostaríamos, mas o projeto já está bem desenhado", diz Ribeiro, que estima que até o meio do ano a OS pode começar a funcionar.
A figura jurídica da OS, contudo, é controversa, especialmente entre alguns setores do PT, que a veem como uma espécie de privatização da atividade pública.
"O problema é que o governo faz muito mal o acompanhamento da OS: repassa o recurso e a responsabilidade e depois não fiscaliza", diz Ribeiro, cineasta baiano que concorreu como deputado estadual pelo PT-BA.
Neste mês ainda, diz Ribeiro, começam as contratações de funcionários via uma outra organização social, a Acerp (Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto), ligada à TV Brasil. "Não gostaríamos exatamente que fosse ela, porque ela já cuida de várias outras coisas, mas vai permitir a volta da Cinemateca, ainda que de forma conservadora."
Novos funcionários, afirma, poderão ser contratados conforme a demanda de outros projetos que envolverem a Cinemateca.
NETFLIX DO BOLSA FAMÍLIA
Em Tiradentes, Pola Ribeiro também comentou os novos programas da Secretaria do Audiovisual, como o Quero Ver Cultura, programa que disponibilizará produção nacional sob demanda a beneficiários do programa Bolsa Família.
O projeto será implantado ao ritmo da entrega dos conversores de sinal digital de TV, que substituirá paulatinamente a transmissão analógica no país -as primeiras caixas já foram entregues em Rio Verde (GO), cidade escolhida para ser a primeira a ter o sinal analógico desligado.
"A gente quer uma plataforma robusta, para que o filme não tenha mais vida no mercado entre nessa plataforma", diz Ribeiro. Algumas das pastas, como a do Desenvolvimento Social encamparam o projeto. Outras, como o Ministério da Educação, ainda "não entenderam" muito o propósito. O programa será custeado com recursos do FSA (Fundo Setorial do Audiovisual).
O jornalista GUILHERME GENESTRETI viajou a convite da Mostra de Cinema de Tiradentes
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