Com presentes, Israel usa indicados ao Oscar para promover imagem do país
Quando Leonardo DiCaprio, Jennifer Lawrence, Matt Damon e os outros indicados ao Oscar encontrarem sua cesta de presentes, alguns deles vão diverti-los, outros vão constrangê-los, enquanto o presente de Israel os levará, provavelmente, à reflexão.
Para promover a imagem do país, Israel decidiu contribuir para o luxuoso conjunto de presentes oferecidos por uma empresa americana privada aos indicados nas principais categorias da premiação.
Kate Winslet ou Sylvester Stallone poderão, por exemplo, aproveitar uma viagem personalizada para Israel, com passagens na primeira classe e alojamento em hotéis de luxo, num valor total de US$ 55 mil (quase R$ 220).
Reuters | ||
Bryan Cranston, Matt Damon, Michael Fassbender, Eddie Redmayne, and Leonardo DiCaprio; best actress Brie Larson, Saoirse Ronan, Charlotte Rampling, Jennifer Lawrence and Cate Blanchett; best supporting actor Mark Rylance, Christian Bale, Tom Hardy, Sylvester Stallone and Mark Ruffalo; best supporting actress Alicia Vikander, Rachel McAdams, Rooney Mara, Kate Winslet e Jennifer Jason Leigh, indicados ao Oscar 2016 |
Mas nem todo mundo aprecia a iniciativa: os defensores da causa palestina pediram às estrelas de cinema que não participem do que eles acreditam ser uma "campanha publicitária de uma potência invasora".
Segundo a imprensa especializada, os presentes, num total de US$ 200 mil (R$ 797 mil), inclui um tratamento para embelezamento dos seios, um brinquedo sexual, papel higiênico de luxo...
A Academia, que concede o Oscar, não está relacionada à cesta de presentes, elaborada pela empresa de marketing Distinctive Assets através de contribuições das marcas.
'BOM PLANO'
A organização anunciou justamente que denunciará a empresa na Justiça por criar a falsa ideia de que está relacionada ao Oscar.
Antes de tornar pública esta denúncia, o governo israelense decidiu aproveitar o protagonismo dos atores para mostrar a "verdadeira Israel", segundo o ministério do Turismo do país.
Sam Gee, fundador da agência exploreisrael.com, que teve a ideia de fazer o presente, diz que o objetivo é levar "as pessoas de influência" ao país.
"O Oscar é um bom plano, porque não há muitos candidatos, o que nos permite oferecer uma viagem realmente luxuosa", enquanto que no Grammy, o equivalente musical, seriam necessários 150 presentes.
"Cada um [dos atores] tem potencialmente milhões de seguidores. Cada um deles, se nos visitar, pode enviar um selfie e o impacto será enorme", afirma Amir Halevy, diretor-geral do ministério do Turismo.
Esta batalha para conquistar os famosos não é nova. Quando Kim Kardashian e Kanye West viajaram a Israel em 2015, o prefeito de Jerusalém, Nir Barkat, teria pedido para que se tornassem embaixadores da cidade e proclamassem que "todos são bem-vindos em Jerusalém."
Uma declaração polêmica, uma vez que Israel anexou Jerusalém Oriental e considera toda a cidade como a sua capital, enquanto os palestinos desejam fazer de Jerusalém Oriental a capital do Estado ao qual aspiram.
DUPLA VERTENTE
O ativista palestino Omar Barghouti diz que Israel teme cada vez mais os efeitos da campanha de boicote internacional que ele co-fundou.
"Israel tem intensificado seus esforços para tentar subornar, intimidar ou forçar celebridades a se alinharem às suas posições", afirmou.
Para os palestinos, esse tipo de operação de publicidade é mal vista quando sua própria vida cultural sofre com as restrições impostas por Israel. Um artista de circo, por exemplo, está atualmente detido sem acusação.
A iniciativa de Israel tem, no entanto, uma dupla vertente.
Mark Ruffalo e Mark Rylance, dois dos indicados ao Oscar deste ano, já expressaram publicamente as suas posições críticas à política do país.
Mike Leigh e Ken Loach, grandes cineastas britânicos, pediram aos indicados que ofereçam seus presentes aos refugiados palestinos.
"Se as celebridades fizeram publicamente antes, durante ou após a sua visita, comentários negativos, isso pode ter um impacto negativo", adverte Margaret Campbell, uma universitária que analisou os riscos potenciais de tirar proveito da fama das estrelas de cinema.
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