crítica
De volta ao cinema, 'Fitzcarraldo' é espetáculo que não cabe em casa
Assistir a bons filmes antigos novamente numa tela grande costuma ser um programa agradável. Mas, no caso de "Fitzcarraldo", de volta aos cinemas nesta quinta (12), passa a ser obrigatório.
Além de suas evidentes qualidades artísticas, o filme que deu um justo prêmio de melhor direção a Werner Herzog no Festival de Cannes em 1982 é, como poucos, um espetáculo que não cabe na sala se estar das pessoas.
Para mostrar o delírio de um personagem real, Brian Sweeney Fitzgerald, o cineasta espalha imagens tão belas quanto inesperadas. Sem efeitos gráficos, Herzog faz com que um barco a vapor pareça flutuar sobre as nuvens.
O resultado vem de três loucuras. Primeiro, a de Fitzgerald, ou Fitzcarraldo, a maneira como foi chamado pelos índios da Amazônia quando se aventurou pela floresta.
Fã de ópera, faz da missão de sua vida construir um teatro na selva para seu ídolo, o tenor italiano Enrico Caruso. Para isso, contrata índios para tarefas hercúleas e insanas.
A segunda loucura é, claro, a do próprio Herzog. Revelação do cinema alemão dos anos 1970, ao lado de Fassbinder e Wim Wenders, ele vinha da consagração internacional com o terror "Nosferatu" (1979) e teve gente disposta a colocar dinheiro numa produção que se previa turbulenta.
Divulgação | ||
O ator Klaus Kinski em cena do filme 'Fitzcarraldo', de Werner Herzog |
E foi realmente turbulenta. Acidentes mataram membros da equipe, índios insatisfeitos sabotaram os trabalhos e Herzog propôs coisas que se mostraram impossíveis.
Para impregnar a tela de devaneio, entra o terceiro louco, o ator Klaus Kinsk. Ele empresta o rosto crispado e os olhos saltados a Fitzcarraldo, num equíbrio constante entre agonia e êxtase. O líder perfeito para a epopeia maluca.
É impossível assistir ao filme sem associá-lo às dificuldades extremas de sua realização. Fica mais fácil entender as declarações de Herzog e Kinski nos anos seguintes, quando ambos afirmaram ter cogitado largar o projeto ou até cometer suicídio na selva.
Para temperar um pouco mais a experiência extraordinária de "Fitzcarraldo", aparecem rostos brasileiros na tela, como José Lewgoy e o cantor Milton Nascimento, numa ponta de luxo. E também a beleza da italiana Claudia Cardinale, linda aos 42 anos.
É mais do que um longa. É a prova do embate de um homem com os limites da arte.
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