crítica
Arriscado, 'Na Ventania' encanta por coragem e beleza plástica
"Na Ventania", longa de estreia do estoniano Martti Helde, filmado em preto e branco, realiza uma operação arriscada. Após algumas imagens que lembram comercial de margarina, temos um momento revelador.
São dez minutos em que a câmera passeia, sem cortes, de uma casa na Estônia até um local em que deportados passam por uma triagem que separa famílias. A câmera se movimenta, mas as pessoas não. Estão paralisadas, como estátuas, ou bonecos num museu de cera.
Esse é o padrão que será seguido durante a maior parte do filme, assumindo o risco de entediar o espectador em favor de uma ideia e de uma forma poética de expressá-la.
Aqueles que gostam de procurar defeitos bobos perceberão que algumas pessoas piscam, outras se movem discretamente. Bobagem, uma vez que nesse caso importa mais o efeito, a ideia mesmo.
Divulgação | ||
Cena do filme "Na Ventania", de Martti Helde |
Paralisia, imobilidade, vidas à deriva. É disso que o filme fala. Mais de 40 mil pessoas foram deportadas da Estônia, da Letônia e da Lituânia para a Sibéria em 1941, durante o terrível regime stalinista. Ficaram paralisadas pelo medo e pela impotência.
Por vezes ouvimos barulhos em espaços vazios, e ninguém aparece. É uma maneira de narrar o que já aconteceu, a consciência de que é tarde demais para corrigir os rumos da história. Mais ou menos o que fez Alain Resnais em "Noite e Neblina" (1955).
Mas Helde não é Resnais, e seu longa transita na perigosa fronteira entre o rigor estético de Béla Tarr e o virtuosismo sensacionalista de Lav Diaz.
"Na Ventania", porém, encanta pela incrível beleza plástica e pela coragem de abraçar uma opção meio suicida, fazer com que ela faça sentido e seguir com ela o tempo todo (ou quase).
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