Opinião: 'La La Land' merece ser visto pelo que ele é

TETÉ RIBEIRO
EDITORA DA SERAFINA

Depois de um filme fazer uma fortuna de bilheteria e ganhar montes de prêmios e indicações vira quase um hobby falar mal dele.

"La La Land" passou por isso, e, de uma hora para outra, um musical romântico e nostálgico virou uma apologia ao governo Trump, uma vez que não tratava de assuntos polêmicos o suficiente, não se posicionava politicamente nem tinha conflitos raciais ou sociais, como alguns dos outros títulos lançados em 2016 nos Estados Unidos.

Mas "La La Land" merece ser avaliado pelo que ele é, não pelo que não é nem pretende ser. E o longa é uma festa para os olhos e os ouvidos, uma história de amor que dá conta de homenagear Los Angeles, com cenas em alguns dos cartões-postais da cidade, assim como o gênero que adota para si, o musical.

O espectador não precisa nem perceber nada disso para embarcar na história de Mia, uma aspirante a atriz (Emma Stone), e do pianista de jazz Sebastian (Ryan Gosling), que se apaixonam enquanto tentam se firmar em suas profissões de escolha.

Ele é um saudosista e quer resgatar um antigo clube de jazz para abrir o seu próprio, onde o ritmo vai ser tocado com exclusividade. Ela só quer um papel, uma oportunidade de fazer o que a fez escolher Los Angeles para viver.

Não é um musical grandioso estilo "Os Miseráveis", que teve uma refilmagem em 2012 com Anne Hathaway e Hugh Jackman, e que tem uma trilha pesada, com uma música-tema que está por trás de todas as cenas, além de diálogos que viram canção.

"La La Land" está mais para "Cantando na Chuva" (1952), com Gene Kelly, talvez o maior de todos os tempos, e tem a leveza de "Todos Dizem Eu Te Amo" (1996), de Woody Allen. Lembra, ainda, pela beleza "Os Guarda-Chuvas do Amor", clássico de 1964 de Jacques Demy, que tem entre seus vários méritos ter feito de Catherine Deneuve uma atriz reconhecida.

Em "La La Land", as coreografias do casal central, que não são bailarinos, são singelas, mas bem realizadas.

Afinal, apesar do sucesso, não deixa de ser um filme com DNA indie, sem centenas de figurantes. Com duas exceções, a cena de abertura, uma coreografia energética que se passa num engarrafamento de Los Angeles, e a final, que não dá para comentar sem estragar a surpresa.

Minha dica para quem ainda não assistiu e agora ficou mais curioso é: vá ver, mas tente esquecer os prêmios, o sucesso de bilheteria e todas as críticas geradas a partir disso. Se sair do cinema de mau humor, pode botar a culpa na resenhista.

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