Crítica
Longa 'Por Trás do Céu' se perde na mescla de registros
Divulgação | ||
A atriz Nathalia Dill em cena no longa 'Por trás do céu' |
Depois de "Minutos Atrás" (2013), o diretor e roteirista Caio Sóh volta com outra fábula, também adaptada de uma peça teatral sua.
Rodado numa belíssima locação, o Lajedo de Pai Mateus, em Cabaceiras, Paraíba, esse drama mistura realismo, registro fantástico e toques cômicos para falar de temas como a perda, a violência, a condição feminina, a pobreza extrema, o êxodo rural.
Aparecida (Nathalia Dill) e o marido Edivaldo (Emilio Orciollo Neto) vivem isolados no Lajedo, enorme elevação rochosa que contrasta com a vegetação do agreste, paisagem lunar propícia ao fantástico.
Edivaldo sai com seu cavalo em busca de algo para comer e de sucata, que Aparecida transforma em objetos estranhos, como a "máquina de descascar pensamentos", que serviria para esvaziar a cabeça de ideias incômodas
Ingênua e sonhadora, Aparecida deseja sair daquele fim de mundo e fazer duas coisas: ir para a cidade, que idealiza, e conhecer o que está por trás do céu. Falante e criativa, é o oposto do circunspecto marido, que sofre com traumas do passado e não quer sair dali.
Por meio de "flashbacks", esses traumas vão sendo revelados e explicam por que o casal foi viver naquele lugar.
Sua solidão é quebrada pela visita do amigo Micuim (Renato Góes), figura engraçada e pueril que acaba de voltar da cidade. Suas narrativas fascinam Aparecida.
Pouco depois surge Valquíria (Paula Burlamaqui), uma prostituta que escapa das garras de um proxeneta e encontra refúgio ao lado do trio.
Nascida na cidade, ela nada tem da candura de Aparecida e Micuim. Mas sua chegada, assim como a dele, pouco acrescenta à trama, que a partir de certo ponto gira em falso, sem adquirir densidade ou ir além do pitoresco.
Exagerada, a ingenuidade de Aparecida é inverossímil numa história ambientada hoje, por mais simplória que seja a personagem. Sua decisão de construir um foguete também não convence.
Se a narrativa abraçasse com franqueza o universo mágico – seguindo o que faz a muito bem cuidada direção de arte–, deixando de mesclá-los com o realismo que domina outros momentos da trama, talvez o filme alcançasse melhor resultado.
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