Análise
Mostra de Skolimowski é para quem não resiste a raridades
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Aleksandra Zawieruszanka em 'Walkover', longa de 1964 dirigido e protagonizado por Jerzy Skolimowski |
A projeção internacional de nomes como Wajda, Polanski e Kieslowski, ao mesmo tempo que afirmou a inventividade do cinema polonês lançou uma sombra sobre outros realizadores não menos importantes.
A mostra O Cinema de Jerzy Skolimowski, em cartaz desta quarta (24) a 12 de junho no CCBB, reúne 19 títulos do diretor cuja indecisão, quando jovem, entre ser poeta ou lutar boxe se reflete no modo como filma conjugando lirismo e violência.
Nascido em 1938, um ano antes da invasão da Polônia por Hitler, Skolimowski cresceu sob os ideais heroicos da resistência antinazista e antistalinista. Em vez disso, preferia se reunir com Polanski e outros em cemitérios para tocar e conversar sobre jazz.
RECRIAÇÃO
Quando começou a filmar, no início dos anos 1960, um impulso disseminado fazia acreditar na possibilidade de recriação do homem, do mundo e do cinema.
Fatalismo e rebeldia são as marcas dessa visão, que o cineasta transpôs em dramas sobre uma "geração cínica, que ainda nutre anseios românticos enquanto busca se integrar", como se autodefine um personagem de "A Barreira" (1966).
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Vincent Gallo em 'Essential Killing', de 2010, um dos mais recentes filmes de Skolimowski |
Nos primeiros curtas, ainda ensaios juvenis, o humor absurdo predomina sobre a normalidade e revela uma originalidade impregnada por um espírito surrealista então influente.
Os longas de estreia, "Marcas de Identificação: Nenhuma" (1962) e "Walkover" (1964), trazem Skolimowski na pele de um mesmo personagem, o jovem desobediente Andrzej Leszczyc, que, como tantos protagonistas do cinema moderno, prefere errar.
Ambos expressam o espírito das "nouvelles vagues" que, naquele momento, atravessava o mundo, do Japão ao Brasil, apagando as distinções entre autor, personagem e espectador e aproximando inquietudes diversas.
A alegoria do trem que aprisiona em seu conforto a classe média dos anos 1960 incomodou demais o socialismo de portas fechadas, que manteve "Mãos ao Alto!" (1967) proibido durante 14 anos.
ALTOS, BAIXOS E LAPSOS
Skolimowski aproveita para seguir os passos do comparsa Polanski e se aventura numa carreira internacional feita de altos ("A Partida", 1967; "Ato Final", 1970), baixos ("The Adventures of Gerard", 1970) e lapsos.
Entre os longos períodos improdutivos nas décadas de 1970 e 1990, o cineasta demonstra ter apenas ficado de tocaia, observando o mundo piorar. É o que revelam "Classe Operária" (1982), "O Sucesso É a Melhor Vingança" (1984) e "O Navio Farol", três triunfos sucessivos de quem só aprimorou o pessimismo.
De volta à ativa desde 2008, o diretor produziu três longas, entre os quais o espetacular "Essential Killing" (2010) e o mal recebido "11 Minutos" (2015), ainda inédito no Brasil. Apesar de incompleta, a mostra é a oportunidade para quem não resiste a raridades.
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próximas sessões
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24/5 (QUARTA)
17h30 'Diálogo 20-40-60'
19h30 'O Navio Farol' (1985)
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25/5 (QUINTA)
17h30 '11 Minutes' (2015)
19h30 'O Sucesso É a Melhor Vingança' (1984)
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26/5 (SEXTA)
17h30 'Correntes da Primavera' (1989)
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CCBB, rua Álvares Penteado, 112, tel. (11) 3113-3651. Ingr.: R$ 10
Livraria da Folha
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