Ex-vampiro teen, Robert Pattinson pode levar prêmio de melhor ator
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Cena do filme 'Good Time', de Benny Safdie e Josh Safdie |
Ex-galã teen, o inglês Robert Pattinson, quem diria, se credenciou como um dos favoritos a levar o prêmio de melhor ator no Festival de Cannes por sua atuação em "Good Time", thriller dos irmãos Ben e Joshua Safdie exibido nesta quinta (25).
O britânico já vinha enveredando pelo cinema autoral atuando em filmes de David Cronenberg e Werner Herzog, mas o novo longa era a estaca que faltava no coração do vampiro Edward, que Pattinson interpretou em "Crepúsculo", a saga juvenil que o alçou a fama.
Em "Good Time", Pattinson interpreta Connie Nikas, ladrão medíocre que tem um irmão com deficiência mental, Nik (vivido pelo codiretor Bem Safdie). Numa malfadada tentativa de assaltar um banco, Nik é detido, e Connie precisará levantar dinheiro para liberá-lo, missão que vai se provar infernal.
Pattinson compõe um criminoso que consegue lograr empatia com o público, equilibrando-se entre o sujeito interesseiro, que explora a namorada (Jennifer Jason Leigh), e o afetivo, que toma conta do irmão.
E os irmãos Safdie se provam sucessores da estética suja, violenta e urbana dos filmes da Nova Hollywood, movimento que legou "Taxi Driver", de Martin Scorsese, vencedor da Palma de Ouro em 1976.
Já o ritmo agitado e a trilha sonora à base de sintetizadores lembram outro filme de ação de trajetória elogiada em Cannes: "Drive" (2011), de Nicolas Winding Refn.
"Sempre quis parecer como um desses atores que são encontrados na rua", disse Pattinson na entrevista coletiva. O trabalho de maquiagem, que acrescentou marcas na pele o deixou menos reconhecível. "Filmamos na rua em Nova York e ninguém me reconheceu para pedir selfie."
A possibilidade de ser reconhecido teria ameaçado o longa, cujas filmagens foram feitas nas ruas de Nova York, em esquema de guerrilha, como descreveram os diretores. "[Para o papel] eu queria desaparecer, ser um fantasma na multidão", disse o ator.
A performance de Pattinson ameaça o trono de Louis Garrel, que até então era tido como o favorito a levar o prêmio de atuação masculina por seu retrato neurótico de Jean-Luc Godard na cinebiografia "Redoutable".
OUTRA RÚSSIA BRUTAL
Também na competição, "A Gentle Creature" (uma criatura gentil), de Sergei Loznitsa, veio para engrossar o caldo dos filmes duros desta edição do Festival de Cannes. Assim como em "Loveless", de Andrey Zvyagintsev, o alvo aqui é a Rússia -mas não a dos dias de hoje, e sim uma arqueológica.
"É verdade que o filme se passa na Rússia atual, mas descreve uma Rússia eterna, com referências a séculos passados", diz o cineasta ucraniano nascido onde hoje fica Belarus.
Enquanto "Loveless" se prende ao realismo, o longa de Loznitsa é delirante, mas tem um resultado igualmente brutal.
A premissa de "A Gentle Creature" é kafkiana. Uma mulher percebe que o pacote que enviou ao marido presidiário retornou ao remetente, o que a leva a enfrentar a burocracia do serviço postal.
Não sendo atendida, ela parte para a cidade-presídio na Sibéria onde o homem está encarcerado.
Cruza com prostitutas, bêbados, funcionários corruptos e aproveitadores de toda sorte que vão pintando num quadro nada gentil da Rússia. Tudo eclode numa das cenas mais violentas entre os longas em Cannes neste ano.
O cenário guarda reminiscências do período soviético, mas há também ecos aqui e ali do czarismo, como se para atestar que o grande fardo do país é herdar o autoritarismo, não importando em qual a sua estrutura política.
"Não fiz esse filme com algum alvo em mente", diz o diretor, quando perguntado se o filme se dirigia a Putin. "Mas são todos responsáveis pelo que acontece na Rússia hoje."
O jornalista GUILHERME GENESTRETI se hospeda a convite do Festival de Cannes
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