Drama 'Victoria e Abdul' é competente 'cinema chá das cinco'
Divulgação | ||
Judi Dench em cena do filme "Victoria e Abdul - O Confidente da Rainha" |
VICTORIA E ABDUL - O CONFIDENTE DA RAINHA (bom)
DIREÇÃO Stephen Frears
ELENCO Judi Dench, Ali Fazal, Tim Pigott-Smith
PRODUÇÃO Reino Unido/EUA, 2017
Veja salas e horários de exibição
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Já tem alguns anos que o diretor inglês Stephen Frears explora o filão "cinema do chá das cinco". Ou seja: costuma fazer comédias ligeiras, preferencialmente de época (Inglaterra vitoriana, Belle Époque francesa, alguma grande cidade europeia em meados do século 20), com toques humanistas e uma dose discreta de lição de moral.
E eis que após o irregular "Programado para Vencer" (2015), que investiga o doping do ciclista Lance Armstrong em suas vitórias na Tour de France, Frears, com "Victoria e Abdul - O Confidente da Rainha", engata o segundo "chá das cinco" seguido, continuando na trilha do simpático "Florence: Quem é Essa Mulher?" (2016).
Bom que seja ele a insistir com esse tipo de filme, tomando o bastão das mãos de James Ivory ("Vestígios de um Dia"), e não um realizador qualquer, que dificilmente conseguiria driblar as armadilhas para extrair algo de valioso artisticamente das tramas.
Frears pode errar, mas geralmente erra com certa classe. Tem noção de ritmo e sabe o que fazer com a câmera. Sabe que esse registro depende de alguns detalhes de encenação que o enriquecem. Por isso, se o roteiro ajudar, as chances são grandes de o filme sair bom.
Felizmente, "Victoria e Abdul", assim como "Florence", está mais para a precisão narrativa de "A Rainha" (2006), ainda seu filme mais bem-sucedido dentro do filão, do que para o tropeço de "Sra. Henderson Apresenta" (2005) ou "Chéri" (2009), alguns dos pontos tenebrosos de sua carreira.
Neste novo longa, com roteiro de Lee Hall, baseado em livro de Shrabani Basu, vemos a incrível e inusitada amizade entre a rainha Victoria (uma Judi Dench soberba, como quase sempre) e Abdul (Ali Fazal), serviçal indiano e muçulmano que se torna seu professor particular, na passagem do século 19 para o 20.
Odiado por todo o alto escalão britânico, Abdul representa um sopro de juventude para a rainha, que antes de conhecê-lo andava macambúzia nos compromissos oficiais da corte.
São particularmente interessantes, ainda que breves, as cenas em que Abdul ensina a língua de seu país para a rainha, tratando-a como uma amiga, mais do que como uma soberana. Talvez essa atitude, interpretada na corte como audaciosa, é que tenha conquistado de vez a monarca.
São também extremamente tocantes algumas sequências que mostram a impermanência das pessoas e das situações. Difícil não tomarmos como nossas as dores dos personagens quando a dramaturgia é bem trabalhada.
E um diretor que sabe extrair leveza e gravidade do mesmo filme deve ser respeitado. Por isso podemos sempre esperar alguma coisa de Stephen Frears, mesmo em filmes aparentemente pequenos como este.
Assista ao trailer de "Victoria e Abdul - O Confidente da Rainha"
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