Alta do dólar anula efeito da queda de ônibus e pedágio na inflação
A alta do dólar e o efeito nocivo que ela exerce sobre os preços no Brasil deve engolir os benefícios produzidos pelas reduções de tarifas de transporte público e a suspensão de outros aumentos.
Desde a semana passada, governantes anunciaram uma série de medidas que aliviam o custo de vida, resposta às manifestações populares em várias cidades do país.
Centrais sindicais fazem paralisação conjunta no dia 11 de julho
Manifestações afetam confiança do consumidor
O pacote de bondades inclui a redução das passagens de transporte público em capitais como Rio, São Paulo, Curitiba, Goiânia, Recife, Fortaleza, Porto Alegre e provavelmente Belo Horizonte, congelamento do pedágio nas estradas paulistas e da energia elétrica no Paraná.
Somadas, as medidas anunciadas até aqui retiram até 0,20 ponto percentual da inflação deste ano, estima a consultoria LCA. Isso significa que a inflação de 2013, prevista em 5,8% pelos analistas do mercado financeiro, poderia recuar para 5,6%.
Mas esse benefício deve desaparecer se a cotação do dólar persistir elevada por mais tempo. Analistas já preveem que a moeda americana não voltará mais ao valor que vigorava até o início do mês passado (ao redor de R$ 2).
Segundo pesquisa semanal do Banco Central, as previsões mais atuais dos economistas indicam que o dólar chegará ao fim do ano valendo R$ 2,13, ou até mais.
A moeda americana fechou ontem a R$ 2,21, cotação 10% maior em relação à de um mês atrás.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
DÓLAR ZERA VANTAGEM
Essa alta, se mantida, pode ter um impacto de aumento de 0,31 ponto percentual na inflação, estima o economista-chefe da consultoria MCM, Fernando Genta. Isso anularia por completo o efeito do pacote de bondades sobre o custo de vida e adicionaria mais pressão.
"Caso a política do BC seja passiva, ou seja, os juros permaneçam estáveis, o impacto da depreciação cambial de 10% poderá ser de até 0,46 ponto percentual."
O dólar mais caro impacta mais rapidamente o preço de alimentos que têm como referência o mercado internacional, como grãos, carnes e farinhas. E deve amortecer o esperado recuo dos preços da alimentação, diz Elson Teles, do Itaú Unibanco.
"A redução dos preços dos alimentos deverá ser mais suave do que o esperado antes", afirma.
O BC conta com o recuo dos preços dos alimentos para fazer a inflação baixar do atual patamar de 6,5%, no limite fixado pelo governo, para a casa dos 5% até o fim do ano.
Para Francisco Pessoa, da LCA, as manifestações nas ruas e a sensação de que as demandas pegaram as autoridades de surpresa geram um clima de incerteza que dificulta os investimentos. O resultado é a menor entrada de dólares no país.
"O impacto econômico dos protestos é ruim no curto prazo, mas pode se transformar em algo positivo se servir para retirar empecilhos", diz.
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