Gigante chilena do cobre, estatal Codelco afirma não ter "um centavo"
Rodrigo Garrido/Reuters | ||
Trabalhador em refinaria da Codelco em Ventanas, no Chile |
"Não há dinheiro, entendam, nenhum centavo." A frase, de Nelson Pizarro, presidente-executivo da maior produtora de cobre do mundo, a chilena Codelco, simboliza a atual situação da estatal.
Segundo ele, a empresa, criada em 1976 e que tem uma dívida de US$ 14 bilhões, passa pela pior crise da sua história. No primeiro semestre, a companhia teve prejuízo de US$ 97 milhões.
Como se o resultado não fosse suficiente, a empresa precisa se capitalizar para manter a produção —e o Estado ainda não indicou se poderá fazer essa injeção..
O problema ganha proporções maiores quando se considera a importância da mineração para o país. O cobre foi responsável diretamente por 10% do PIB e de 2,5% dos empregos chilenos em 2015 —em 2007, a participação na economia chegava a 20%.
Em 2015, só a Codelco gerou 2,5% do total arrecadado pelo Estado. Essa fatia, porém, caiu para 1,9% no acumulado até julho deste ano.
A estatal precisa hoje de US$ 18 bilhões para fazer seus investimentos e produzir 2 milhões de toneladas de cobre por ano em 2020.
"A situação vem piorando há uns cinco anos, principalmente porque o Estado restringiu ao máximo o orçamento de investimentos", disse à Folha o professor de economia Guillermo Pattillo, da Universidade de Santiago.
Pizarro já sinalizou que alguns projetos poderão ser cortados se não houver financiamento, o que afastaria a empresa da meta dos 2 milhões de toneladas. Hoje, a produção é de 1,7 milhão.
A redução da demanda global do cobre, sobretudo na China, e a subsequente queda do preço do produto também estão entre os fatores que desencadearam a crise da Codelco.
O valor do cobre diminuiu 21% no primeiro semestre em relação ao mesmo período de 2015. Se comparado com 2011, quando a cotação atingiu o seu auge, a retração é de 55%.
"O cobre é uma das commodities com pior resultado nos últimos anos", diz o argentino Juan Pablo Ronderos, da consultoria Abeceb.
DEBATE POLÍTICO
A crise provocou debate político. A senadora Isabel Allende, do Partido Socialista (o mesmo da presidente Michelle Bachelet) defendeu que se acabe com a lei que determina o repasse de 10% do valor das vendas da Codelco para as Forças Armadas.
O opositor e ex-presidente Sebastián Piñera também disse que é preciso mudar a lei e acrescentou que as pessoas não podem pensar que a estatal é "uma vaca leiteira".
Bachelet, que tem a aprovação de apenas 19% dos chilenos, afirmou que o governo está comprometido com a empresa, mas que é necessário avaliar a melhor forma para capitalizá-la.
Procurada, a assessora da Codelco disse que não comentaria o assunto.
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