Em meio a crise, acionistas da BRF fazem acordo para pacificar empresa
Bruno Poletti - 5.set.2016/Folhapress | ||
Abilio Diniz, presidente do conselho de administração da BRF |
Em meio à profunda crise que se abateu sobre a empresa após a Operação Carne Fraca, os principais acionistas da BRF reuniram-se nesta sexta-feira (24) para "pacificar" a empresa.
Eles decidiram lançar uma única chapa para o conselho da gigante de alimentos, que será votada em abril.
A BRF decide a cada dois anos sobre um novo mandato para o comando da empresa.
A chapa prevê a manutenção de Abilio Diniz na presidência do conselho de administração.
Segundo a Folha apurou, a ideia é que Pedro Faria siga na presidência da empresa, que é dona das marcas Sadia e Perdigão.
Acertou-se, porém, mudanças na configuração do restante do conselho.
Cinco executivos, entre eles o consultor Vicente Falconi e o ex-presidente da Petrobras Aldemir Bendine foram substituídos. Um novo posto foi criado.
Os novos nomes são: Francisco Petros (vice-presidente do conselho), Flávia Almeida, Carlos Parcias, Marcos Grasso, Walter Malieni Jr. e José Aurélio Drummond Jr.
Até a deflagração da Carne Fraca, na sexta (17), que provocou o bloqueio da carne brasileira em vários países, havia um debate intenso sobre o futuro da atual gestão.
Sob o impacto do primeiro prejuízo registrado pela empresa, de R$ 372 milhões em 2016, acionistas questionaram o desempenho de Faria.
O controle da BRF, que tem ações em Bolsa, é difuso. Os principais sócios são o fundo Tarpon (12%), o fundo dos funcionários da Petrobras, a Petros (11,4%), e o fundo de pensão do Banco do Brasil, a Previ (10,7%).
Luiz Fernando Furlan e Walter Fontana Filho, herdeiros do fundador da Sadia, Attilio Fontana, têm participações minoritárias, assim como Abilio.
CRISE
A BRF vivia uma tormenta. A empresa perdia participação no mercado interno e os maus resultados levavam à queda das ações.
Em reunião antes do Carnaval, o representante da Previ no conselho chegou a pedir que se deliberasse sobre a permanência de Faria. Decidiu-se por mantê-lo. A pressão, porém, aumentara.
O advento da operação da PF, que investiga esquema de pagamento de propina a fiscais do Ministério da Agricultura, minou a capacidade de reação da BRF ao lançar dúvidas sobre a qualidade do produto e fechar mercados.
Além do dano à imagem, ainda incalculável, as restrições impostas por outros países causaram efeito duplo no desempenho: interromperam parte das vendas e pressionaram a empresa a baixar preços para escoar produção —mais da metade das receitas da BRF vem do exterior.
Diante da gravidade da situação, ganhou força o discurso de que era preciso "unir forças" para salvar a empresa e que qualquer ruptura no comando neste momento seria ainda mais prejudicial, afirma um executivo.
MEDIDAS
Na tentativa de reagir à operação, a BRF anunciou a criação de um grupo "Certificador de Qualidade", encarregado de "reatestar" sua adesão aos padrões internacionais de segurança alimentar.
Em outra frente, a empresa escalou Furlan para liderar o chamado "Comitê Especial de Resposta".
De acordo com comunicado da empresa, ele ficará responsável por acompanhar a "situação da companhia" e propor respostas aos "desafios".
Ex-ministro da Indústria, Furlan foi presidente do conselho de administração da Sadia.
A empresa está em estado de alerta. Na semana que passou, o conselheiros reuniram-se ao menos três vezes.
Furlan foi à Brasília conversar pessoalmente com integrantes do governo.
Abilio intensificou as conversas com executivos enquanto articulava sua permanência no posto.
Já a diretoria dividiu-se na tentativa de acalmar investidores, clientes e consumidores.
Um dos problemas a serem resolvidos é o que fazer com os perus que deveriam ser enviados à fábrica de Mineiros (GO), interditada pelas autoridades.
A solução que vem sendo estudada é a transferência dos animais para outra unidade, em Minas Gerais.
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