Volvo dá um choque elétrico em fabricantes de carros

Crédito: Phil Noble - 6.jul.2017/Reuters An electric vehicle charging cable is seen on the bonnet of a Volvo hybrid car in this picture illustration taken July 6, 2017. REUTERS/Phil Noble/Illustration ORG XMIT: PNN01
Automóvel da Volvo com carregador de bateria elétrica

DO "FINANCIAL TIMES"

Dois acontecimentos nesta semana sinalizaram uma mudança de ritmo na chegada dos veículos elétricos às ruas. Elon Musk, presidente-executivo da Tesla, anunciou que o primeiro modelo da companhia para o mercado de massa, o Model 3, sairá da linha de produção nesta semana pronto para o lançamento marcado para o fim do mês.

Isso foi seguido pelo anúncio da Volvo de que a montadora sueca de automóveis, controlada pelo grupo automotivo chinês Geely, deixará de fabricar veículos equipados apenas com motor de combustão interna a partir de 2019. Dali por diante, todos os modelos da Volvo serão movidos apenas por baterias —ou por uma combinação entre baterias e motor a gasolina.

Menos de 1% dos carros que circulam nas ruas hoje têm propulsão elétrica. O que é significativo, e o contexto no qual a declaração da Volvo foi realizada é o ritmo de mudança desse número. As vendas de carros elétricos subiram em 42% em 2016, crescimento cerca de oito vezes maior que a média do mercado automotivo.

Há um debate saudável nos setores automotivo e de energia para determinar se veículos propelidos por baterias ou por células combustíveis de hidrogênio representam o caminho do futuro. Estes últimos estão atrás dos veículos elétricos em sua evolução, por causa (entre outras coisas) do processo ineficiente em termos energéticos usado para extrair hidrogênio combustível. De qualquer forma, já é possível prever um futuro no qual os combustíveis fósseis desempenharão papel limitado no transporte de pessoas.

Ainda estamos longe de realizar o sonho mais amplo de uma economia ecológica, com baixa queima de carbono. Mesmo assim, está se tornando mais fácil visualizar um mundo no qual forte crescimento econômico conviverá com ar mais limpo, emissões de carbono menores e menos dependência quanto ao petróleo.

O ritmo de adoção das tecnologias ecológicas já excedeu em muito as expectativas de muitos especialistas, o que desperta a esperança de que o nostálgico caso de amor de Donald Trump com os combustíveis fósseis represente uma aberração, e não uma reversão dos esforços mundiais para enfrentar a mudança no clima.

Restam, no entanto, obstáculos significativos a uma adoção mais rápida dos carros elétricos. O primeiro é tecnológico. No momento, o alcance desses veículos, um máximo de cerca de 300 quilômetros, continua a ser um desincentivo, especialmente nos Estados Unidos, onde os motoristas estão acostumados a percorrer longas distâncias com um tanque de gasolina.

As baterias continuam a ser uma incógnita. Precisam se tornar mais poderosas e mais baratas. O volume de investimento para tanto é encorajador. Mesmo assim, até a Tesla sofreu percalços no caminho.

Crédito: Jonas Ekstromer/Reuters Volvo Cars' CEO Hakan Samuelsson speaks during an interview at the Volvo Cars Showroom in Stockholm, Sweden July 5, 2017. TT News Agency/Jonas Ekstromer/via REUTERS ATTENTION EDITORS - THIS IMAGE WAS PROVIDED BY A THIRD PARTY. SWEDEN OUT. NO COMMERCIAL OR EDITORIAL SALES IN SWEDEN ORG XMIT: SWE03
O presidente-executivo da Volvo, Hakan Samuelsson, durante entrevista em Estocolmo

O segundo obstáculo é a infraestrutura. Pontos de recarga rápida talvez venham a se espalhar pelas cidades da mesma maneira que os caixas eletrônicos fizeram. Mas a rede de eletricidade, em sua configuração atual em cidades como Londres, não está preparada. Alguns especialistas temem que uma alta do uso nos horários de pico gere escassez de energia.

Além disso, os benefícios dos carros elétricos ainda dependem pesadamente do tipo de eletricidade usada para abastecê-los: se a bateria for carregada por uma usina de energia acionada a carvão e que emite nuvens de gases tóxicos, as vantagens ecológicas se dissipam.

Até o momento, os avanços conquistados vêm sendo propelidos acima de tudo por subsídios governamentais. Isso não é ruim. Mas o custo precisa cair até um ponto que permita que o setor se sustente sem ajuda. Isso não significa que o governo deveria relaxar seus esforços. As cidades estão cada vez mais perto de proibir veículos diesel, para melhorar a qualidade de seu ar. Isso também poderia acelerar as vendas de carros elétricos.

O que a Tesla fez foi tornar desejáveis os carros elétricos de luxo. A empresa está próxima de possibilitar que eles também se tornem atraentes para o público de massa. Ao fazê-lo, está estimulando outras montadoras a agir mais rápido do que qualquer um esperava. Que um grupo estabelecido como a Volvo estabeleça um prazo para abandonar o motor de combustão interna representa um marco - e deveria encorajar empresas e governos a acelerar seu avanço.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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