A família de Dara Khosrowshahi emigrou para os Estados Unidos em 1978, do Irã, convulsionado por uma revolução. Eles não foram recebidos com grande alegria pelos americanos, e chegaram falidos.
"Todos nós, os primos, tínhamos contas a acertar, porque perdemos tudo para o novo governo iraniano", disse Hadi Partovi, primo de Khosrowshahi. "Tínhamos o desejo de reconstruir nossas vidas como empreendedores."
Khosrowshahi, 48, está a ponto de se tornar um dos empreendedores mais conhecidos do mundo. Na noite de domingo (27), ele foi selecionado para ser o novo presidente-executivo da Uber, a companhia de serviços de carros que é a mais valiosa start-up do planeta. Sua indicação já é quase oficial, de acordo com o site de reservas para viagens Expedia, que Khosrowshahi preside.
A notícia se segue a seis meses de desordem extraordinária na Uber. Khosrowshahi substituirá Travis Kalanick, um dos fundadores da empresa e sua força propulsora, que foi forçado a renunciar em junho depois de uma sucessão de escândalos.
A tarefa dele será reparar a cultura interna da empresa, que deixou de ser apenas uma start-up agressiva e se tornou conhecida por suas divergências internas e pela tolerância quanto a assédio sexual e moral.
Ele terá de ampliar os negócios da Uber e prepará-la para um futuro de carros autônomos, que os concorrentes da empresa esperam dominar. Mais cedo ou mais tarde, terá também de abrir o capital da companhia.
E há Kalanick como incógnita, já que ele poderá aproveitar qualquer problema da empresa para tentar um retorno. Além disso, Khosrowshahi terá de administrar todo esse processo diante de holofotes muitos mais brilhantes do que aqueles sob os quais trabalhou no passado.
O EXECUTIVO
Dara Khosrowshahi foi o executivo mais bem pago dos Estados Unidos em 2015, de acordo com cálculos da Equilar. Graças a uma concessão generosa de opções de ações, ele faturou US$ 94,6 milhões naquele ano. Em 2016, quando não teve opção de ações a exercer, sua remuneração foi de US$ 2,5 milhões.
Além de presidir a Expedia desde 2005, Khosrowshahi se tornou parte do conselho da New York Times Co. em 2015.
Seu caminho para o sucesso o conduziu à administradora de investimentos Allen & Co., na qual trabalhou como analista pela maior parte dos anos 90. O magnata Barry Diller era um dos clientes da empresa, e Khosrowshahi terminou por aceitar um emprego junto ao magnata da mídia.
Em 2001, Diller adquiriu a Expedia, uma companhia de reservas on-line para viagens fundada pela Microsoft. Quatro anos depois, Khosrowshahi se tornou presidente-executivo do site, que floresceu e em 2015 adquiriu três grandes concorrentes. As ações da empresa, que abriu seu capital, subiram em 35% no ano passado, a despeito da concorrência da Priceline, por um lado, e do Airbnb, por outro.
"Se Dara nos deixar, lamentarei muito, mas ele também terá minha benção. Depois de dedicar 12 anos a construir esta empresa, se é isso que ele deseja como próxima aventura, pode contar com meus melhores votos", afirmou Diller em nota aos empregados da Expedia na segunda-feira (28).
DESAFIOS
A Uber, como a Expedia uma década atrás, é uma empresa imensamente promissora mas também está diante de grandes desafios. Os proponentes da contratação de Khosrowshahi acreditam em sua capacidade de resolver os problemas do grupo.
"Ele é executivo no setor de viagens internacionais. Compreende a dinâmica da competição, os desafios geopolíticos e os desafios operacionais de comandar uma empresa de grande alcance mundial", disse Brad Gerstner, fundador da Altimeter Capital, investidora na Uber e na Expedia.
Sob o comando de Kalanick, alguns executivos da Uber eram considerados intocáveis, o que contribuiu para a criação de uma atmosfera venenosa. Shana Fisher, que trabalhou com Khosrowshahi na IAC, de Diller, e hoje trabalha no ramo de capital para empreendimentos, disse que "as pessoas não terão desculpas, com Dara. Terão de ser muito boas no que fazem. Muito boas. Ele não tolera menos que isso."
As experiências de Khosrowshahi como imigrante lhe deram perspectiva pessoal sobre a ordem executiva de restrição de entrada nos Estados Unidos de cidadãos de sete países majoritariamente muçulmanos, assinada neste ano pelo presidente Donald Trump.
A Expedia e também a Amazon apoiaram desde o começo um processo judicial aberto pelo secretário da Justiça do Estado de Washington objetando à proibição. Mais ou menos naquele momento, Khosrowshahi descreveu suas experiências iniciais como imigrante aos trabalhadores da Expedia.
"Nós certamente não nos sentíamos como refugiados, mas em retrospecto acho que era isso que éramos. Meu pai e minha mãe deixaram tudo para trás e vieram para cá, em busca de segurança e para dar aos filhos a chance de reconstruírem suas vidas", escreveu.
Khosrowshahi vem expressando repetidamente sua preocupação sobre Trump, mais recentemente em 15 de agosto, quando tuitou: "Estou sempre esperando o momento no qual o presidente provará estar à altura de seu posto, mas isso nunca acontece."
É evidente que, para Lili e Gary, seu filho está altura das expectativas que eles tinham. Depois de ser entrevistado por Jim Cramer, apresentador do programa financeiro "Mad Money", Dara tuitou: "Não me dei mal (diz minha mãe)".
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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