ONU pressiona China por fim da violência no Tibete
A China foi pressionada nesta terça-feira no órgão da ONU para direitos humanos para acabar com a repressão violenta no Tibete. Países membros do Conselho de Direitos Humanos da ONU pediram o fim das restrições sobre viagens e informação e do uso da violência para conter os protestos no Tibete.
A União Européia, em discurso no Conselho, instou Pequim a parar de usar a força contra a onda de protestos de tibetanos, iniciados no dia 10 de março --data do 49º aniversário de um levante fracassado contra o domínio chinês.
Os EUA, Austrália, Canadá e a Suíça também pediram à China que acabe com as restrições sobre viagens e informação no Tibete. A imprensa estrangeira está proibida de entrar no território chinês, o que dificulta saber a dimensão real dos abusos aos direitos humanos.
A China, membro permanente do Conselho de Segurança da ONU cuja influência econômica a torna um importante aliado de países ricos e pobres, raramente enfrenta críticas diretas nas Nações Unidas.
Pequim atualmente ocupa um dos 47 assentos rotativos do Conselho de Direitos Humanos da ONU. A Índia, onde vive o líder espiritual tibetano exilado, dalai-lama, também é membro, assim como a Rússia e a Arábia Saudita.
O Conselho, baseado em Genebra, foi criado para substituir a Comissão de Direitos Humanos da ONU, criticada por não superar alianças políticas e por não tomar posições definidas sobre questões como a repressão chinesa contra estudantes na praça Tiananmen, em 1989.
Se dirigindo ao Conselho nesta terça, a ONG Anistia Internacional citou relatos de que manifestantes no Tibete foram "aparentemente atacados apenas por sua identidade étnica, resultando em mortes, ferimentos e danos à propriedade".
"Ao restaurar a ordem, as autoridades chinesas recorreram a medidas que violam os padrões e leis dos direitos humanos internacionais", afirmou a organização, que também pediu ao Conselho que avalie questões de longo prazo, como restrições sobre as práticas religiosas tibetanas e a exclusão da população do Tibete dos ganhos econômicos chineses.
Na semana passada, 65 organizações de direitos humanos da Ásia pediram um sessão especial do Conselho sobre o Tibete, assim como foram realizadas sobre os territórios palestinos, a região sudanesa de Darfur e Mianmar, onde militares reprimiram violentamente protestos liderados por monges em 2007.
A Comissária da ONU para Direitos Humanos, Louise Arbour, disse na semana passada que Pequim --sede dos Jogos Olímpicos em agosto-- precisa dar relatos e reais e confiáveis da situação no Tibete.
"A China está pronta para abrir sua porta para 30 mil jornalistas em agosto", disse Arbour a uma rede de TV canadense. "Por que não pode abrir sua porta para um ou dois jornalistas estrangeiros interessados no que está acontecendo no Tibete, assim como no que acontecerá na Olimpíada?", questionou a comissária.
Sarkozy
O presidente francês, Nicolas Sarkozy, não descartou nesta terça a possibilidade de um boicote à cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de 2008, em Pequim, e pediu "responsabilidade" às autoridades chinesas no Tibete.
"Todas as opções estão abertas", afirmou Sarkozy após ser questionado sobre um eventual boicote. Fontes do Palácio do Eliseu disseram que o presidente se referia a um boicote à cerimônia de abertura dos jogos.
Um boicote francês à abertura das Olimpíadas pode ser muito significativo, já que a França ocupará a Presidência rotativa da União Européia durante os jogos, que ocorrem entre os dias 8 e 24 de agosto.
"Nossos amigos chineses precisam entender que a preocupação mundial é sobre a questão do Tibete, e eu vou adaptar minha resposta à situação de acordo com a resposta das autoridades chinesas", disse Sarkozy durante uma visita a um regimento militar no sudoeste da França.
Na semana passada, o ministro francês das Relações Exteriores, Bernars Kouchner, sugeriu o boicote à cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim, mas logo recuou, chamou a medida de "irreal" e disse que a França não era a favor dela.
Apesar da possibilidade aventada pelo presidente francês, a Casa Branca confirmou que o presidente George W. Bush mantém sua intenção de assistir aos Jogos Olímpicos na China.
"Nossa posição continua sendo que o propósito dos Jogos Olímpicos é que os atletas internacionais se reúnam e exibam seus talentos", afirmou a porta-voz da Casa Branca, Dana Perino.
Mortes
O primeiro-ministro do governo tibetano no exílio, Samdhong Rinpoche, afirmou nesta terça que 140 pessoas morreram nos conflitos ocorridos no Tibete. "Esta cifra é procedente de nossas fontes no Tibete", afirmou o primeiro-ministro na cidade de Dharamsala (norte da Índia), sede do governo tibetano no exílio.
"O balanço é de 140 mortos. Este balanço diz respeito à noite desta segunda-feira e inclui o conjunto do Tibete", afirmou. Nesta segunda-feira, o saldo divulgado por Rinpoche era de 130 mortos. Apesar de divulgar o novo balanço, o próprio primeiro-ministro afirmou que é impossível verificar o número preciso de mortos.
Segundo as autoridades chinesas, o balanço oficial dos distúrbios é de 19 mortos, sendo 18 civis "inocentes" e um policial. Como a imprensa tem o acesso vetado à região do Tibete as informações não têm como ser comprovadas.
Dalai-lama
O dalai-lama reiterou nesta terça em Nova Déli que renunciará "se as manifestações violentas continuarem".
"Deixei sempre claro que a expressão de emoções profundas deve estar sob controle. Se estão fora de controle, não temos opções. Se as manifestações violentas continuarem, renunciarei", disse o dalai-lama, em declarações divulgadas pela agência PTI.
O líder budista pediu que os tibetanos se contenham e não escolham a violência contra o povo chinês. "Sempre respeitei a população chinesa, o comunismo chinês. Muitos dos manifestantes tibetanos são ideologicamente comunistas. Tanto dentro quanto fora da China, se nas manifestações forem utilizados métodos violentos, sou totalmente contra", disse.
O dalai-lama está em Nova Déli (capital da Índia) durante esta semana para oferecer cursos de meditação e budismo.
Com Reuters, Associated Press e Efe
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