Da explosão à implosão populacional em uma década
Até o início da década passada, o medo de uma explosão populacional no país ainda tirava o sono de muitos brasileiros. Os especialistas já sabiam que a bomba estava sendo desarmada, pois o ritmo de crescimento caía de forma constante havia décadas. Porém, ainda persistia em parcela significativa da sociedade a ideia de que era preciso agir agressivamente para reduzir o número médio de filhos por mulher, especialmente nas camadas mais pobres.
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O Brasil, que em 1960 registrava a média de 6 filhos por mulher, iniciou o milênio com uma fecundidade de 2,4. Ainda não sabemos o resultado definitivo do Censo 2010, mas pesquisas anuais indicam que já estamos abaixo do nível de reposição populacional, provavelmente com uma taxa entre 1,8 e 1,9.
Ricardo Moraes/Reuters | ||
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A intensidade da queda surpreendeu até especialistas e obrigou o IBGE, instituto responsável pelas estatísticas oficiais, a refazer suas projeções, antecipando de 2062 para 2040 a estimativa sobre o ano em que a população começará a diminuir.
Urbanização acelerada, aumento da escolaridade feminina, melhor acesso a métodos contraceptivos e, em menor grau, até mesmo a influência de telenovelas -ao divulgarem por todo o país padrões de vida urbanos dos grandes centros- estão entre as causas apontadas por estudiosos para explicar a queda na fecundidade.
Este movimento, antes restrito às mulheres de maior renda em grandes cidades, espalhou-se pelo país. Na década passada, pela primeira vez na história, o número de crianças caiu em favelas cariocas como a Rocinha, o Alemão ou a Maré.
O temor de explosão populacional, aos poucos, dá lugar a outras angústias. A queda acelerada da fecundidade e o aumento da expectativa de vida põem em xeque o sistema de aposentadoria pública. O país terá também que se preparar para atender às demandas de uma população cada vez mais envelhecida que dependerá de serviços públicos para viver com qualidade.
Ao mesmo tempo, janelas de oportunidades se apresentam. Um número menor de crianças permite aumentar o gasto per capita na infância. Ao mesmo tempo, antes de igualarmos o nível de envelhecimento de nações ricas, haverá uma proporção alta de adultos em idade ativa para um número ainda relativamente baixo de crianças e idosos. É o que alguns demográficos chamam de bônus demográfico, fase em que a estrutura populacional é favorável ao crescimento econômico, mas que tem prazo para acabar.
É essa a hora do Brasil. As gerações futuras saberão, na prática, se fizemos hoje as escolhas certas.
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