Análise: China é país campeão de poluição, mas investe em energia limpa
A nuvem marrom que engolfou Harbin tem duas fontes principais: carvão mineral e veículos. As condições atmosféricas só dificultaram a dispersão de poluentes que já pairavam sobre a China, campeã mundial de poluição.
O país asiático tem reservas de carvão mineral suficientes para meio século. Já é o maior produtor do planeta e também o maior importador. Cerca de 80% da energia elétrica produzida no país provém de usinas térmicas alimentadas com carvão.
Um subproduto da queima desse combustível fóssil é a poeira inalável, partículas que atacam as vias respiratórias e até os alvéolos pulmonares, no caso do material mais fino (MP2,5). Com a aproximação do inverno, a demanda por aquecimento eleva ainda mais o consumo de carvão e, assim, as emissões de material particulado.
A Organização Mundial da Saúde recomenda que a concentração de MP2,5 não ultrapasse a média de 25 microgramas por m³ num dia. Em Harbin, registraram-se 600 microgramas por m³; alguns bairros alcançaram mais de 1.000 microgramas por m³.
A outra fonte principal da poeira inalável são veículos automotores. A frota chinesa, com mais de 240 milhões de veículos registrados em 2012 (dos quais 120 milhões são automóveis de passeio) ameaça ultrapassar a dos EUA (253 milhões em 2011).
Outros 20 milhões de veículos devem entrar em circulação na China até o fim deste ano. E, por ora, só há 260 milhões de motoristas na população de 1,36 bilhão.
Isso significa que, mesmo com a desaceleração do crescimento econômico chinês, episódios como o de Harbin voltarão a repetir-se (em janeiro passado, a concentração de MP2,5 alcançou 900 microgramas por m³ na própria capital, Pequim). É grande o potencial para que os protestos contra o excesso de poluição, hoje localizados, se espalhem pelo país.
A nova cúpula da ditadura chinesa, no entanto, não faz vista grossa para a nuvem marrom. O combate à poluição tem lugar destacado em seus planos de reforma.
Um dos objetivos ambiciosos é impedir que a queima de carvão continue a crescer depois de 2017. Se em 2011 o mineral representava 68,4% do consumo total de energia, nos próximos quatro anos terá de cair para 65%.
Nesse intervalo, US$ 275 bilhões serão aplicados em fontes alternativas de energia, como a solar, e na melhoria da qualidade do ar. A China, aliás, já é o maior investidor mundial em energia limpa.
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