Dilma recebe Angela Merkel para reforçar relação Brasil-Alemanha
Em meio a uma rebelião inédita dentro do seu partido, a chanceler alemã Angela Merkel chega ao Brasil na noite desta quarta (19) para uma visita-relâmpago à presidente Dilma Rousseff, mergulhada numa crise política sem precedentes no governo.
A viagem foi anunciada em meados de fevereiro, quando Dilma ainda "respirava" politicamente e Merkel liderava com tranquilidade os rumos da política europeia.
Ambas se aproximaram em 2013 para reagir à revelação de que foram alvo de espionagem do serviço de inteligência americana.
No ano passado, Merkel esteve no Brasil para assistir ao lado de Dilma à Copa do Mundo, vencida pela Alemanha.
Odd Andersen/AFP | ||
A chanceler Angela Merkel durante reunião de deputados de seu partido no Parlamento, em Berlim |
Agora, a petista vive um caos político, e Merkel encara um desgaste no bloco europeu, mas sobretudo entre os alemães, por causa da negociação que levou a um novo resgate financeiro da zona do euro à Grécia, no valor de € 86 bilhões (R$ 330 bilhões).
Dilma apresentará seu plano de investimentos em infraestrutura e tentará usar a visita da chanceler para mostrar prestígio externo num momento de fragilidade.
Merkel postergou o embarque ao Brasil em algumas horas para evitar que o Parlamento em Berlim votasse contra o socorro aos gregos.
Lideranças do seu partido, o CDU (União Democrata-Cristã), ameaçaram derrubar o acordo. Pela primeira vez desde que assumiu o governo, em 2005, Merkel tem sua liderança contestada.
DELEGAÇÃO
A chanceler ficará menos de 24 horas em Brasília. Sua delegação, porém, será peso-pesado: serão sete ministros e cinco secretários de Estado.
Será o primeiro encontro bilateral desde que a Alemanha incluiu o Brasil no rol de países com quem mantém relação de "alto nível" —de emergentes, somente Índia e China possuem tal status.
Apesar da crise econômica no Brasil, o governo de Merkel busca investimentos para cerca de 1.300 empresas alemãs que atuam no país.
Nos últimos dias, os jornais europeus noticiaram com destaque os protestos contra o governo Dilma.
Questionado sobre se a viagem ao Brasil ocorreria em um bom momento, o porta-voz da chanceler, Steffen Seibert, minimizou, dizendo que reuniões bilaterais desse tipo não levam em conta o atual contexto interno do país.
Um jantar de recepção deve ocorrer nesta quarta-feira no Palácio do Alvorada.
Merkel e Dilma reúnem-se na quinta (20) no Planalto, onde farão um comunicado à imprensa sobre a importância da relação bilateral.
Está prevista uma declaração sobre o combate a mudanças climáticas, em que Dilma deve reforçar o compromisso com "metas ambiciosas", mas sem definir números e enfatizando que as potências precisam ajudar os menos desenvolvidos a cumprir sua parte —ponto central da posição brasileira.
Merkel quer intensificar a campanha entre os emergentes para evitar um fracasso na conferência do clima (COP 21) em dezembro, em Paris.
Ela e Dilma alinharam o discurso em junho, em um encontro em Bruxelas, dias após a reunião do G7 em que a alemã conduziu o consenso das potências em reduzir o uso de combustíveis fósseis até o fim deste século.
Não se espera nenhum grande acordo financeiro neste encontro entre as duas líderes.
Os memorandos de entendimento que serão assinados, entre eles um de mobilidade urbana e outro na área de ajuda ambiental por parte da Alemanha, somam US$ 500 milhões em projetos, considerados modestos diante do porte dos dois países.
"O objetivo desse encontro é intensificar essa relação com a Alemanha, com um diálogo mais constante em pontos de extrema importância internacionalmente", diz o embaixador Osvaldo Biato Júnior, diretor do Departamento de Europa do Ministério das Relações Exteriores.
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