Fechada, fronteira entre Colômbia e Venezuela vê comércio minguar
Nos últimos oito dias, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, fechou parte da fronteira com a Colômbia, deportou mais de 1.100 colombianos e declarou estado de exceção na região por dois meses.
A justificativa era acabar com o contrabando e normalizar o abastecimento de alimentos e produtos básicos.
Mas o que se vê na cidade de San Antonio Del Táchira, principal ponto de passagem entre os dois países, é o aumento das filas e do caos nos supermercados, sinal mais evidente do impacto econômico causado pelas medidas.
Samy Adghirni/Folhapress | ||
Colombianos deixam suas casas na favela de Pequeña Barinas, em San Antonio del Táchira |
Na manhã de quinta (27), centenas de pessoas se aglomeravam aos gritos e empurrões diante do Supermercado Económico, onde se vendem produtos a preço tabelado.
"O governo não disse que eram os colombianos que causavam desabastecimento ao levar mercadoria para seu país? Os colombianos foram expulsos, e veja as filas", exaltou-se uma senhora, ignorando soldados com fuzis que circulavam no local.
As filas aumentaram porque o fechamento da fronteira gerou um nervosismo que levou moradores a tentarem estocar todo tipo de produto, acirrando ainda mais o desabastecimento crônico que assola toda a Venezuela.
"Ninguém sabe como serão as coisas de agora em diante. Estamos todos preocupados", diz o técnico em informática Enzo Rubio, 28.
O bloqueio da fronteira também priva venezuelanos da possibilidade de contornar o desabastecimento comprando nas lojas e farmácias do país vizinho, situadas a minutos de caminhada.
"Os preços são muito mais altos na Colômbia, mas ali se encontra tudo", diz Rubio.
Moradores da região ouvidos pela Folha admitem, sob condição de anonimato, que o contrabando era uma fonte de renda extra.
O contrabando mais rentável é o da gasolina. É comum a prática de encher o tanque na Venezuela (por menos de R$ 1) e esvaziá-lo na Colômbia, onde o combustível é revendido dez vezes mais caro.
Com a fronteira fechada, o movimento nos postos de gasolina da região despencou.
LOJAS VAZIAS
O comércio minguou em San Antonio Del Táchira e outras cidades fronteiriças onde vigora o estado de exceção. Muitas lojas continuam fechadas, apesar de o governo ter ameaçado invadir e tomar mercadorias dos comércios que se recusam a abrir.
Os que abrem, com exceção dos supermercados, ficam vazios, como a venda de material elétrico de Justino Herrera, 64. "Quase todos os clientes vinham do outro lado. Quando você acha que vão reabrir a fronteira?"
Ao menos 50 mil pessoas transitavam diariamente na fronteira na área de San Antonio del Táchira, segundo a Câmara de Comércio local.
Autoridades colombianas estimam o prejuízo diário em US$ 400 mil para empresas locais, algumas das quais exportam para o mundo a partir de portos na Venezuela.
O governo venezuelano, que ignora pedidos de contato da Folha, não divulga cifras e afirma em que o fechamento da fronteira irá melhorar a vida da população.
Outra queixa dos comerciantes diz respeito à saída dos trabalhadores colombianos, que foram deportados ou fugiram após terem tido as casas marcadas para ser demolidas pelo governo.
"Da noite para o dia, indústrias, oficinas e restaurantes ficaram sem sua melhor mão de obra, e isso afeta a produção", diz José Rozo, da Câmara de Comércio local.
Ele diz que o fechamento da mesma fronteira ordenado em 2008 pelo então presidente venezuelano, Hugo Chávez, extinguiu 25 mil empregos diretos e indiretos.
"Não adianta culpar os colombianos. O desabastecimento decorre da falta de produção. Isso não será resolvido com controle do câmbio e de preços e perseguição a empresários", diz Rozo.
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