Brasil convoca embaixador uruguaio após insinuação de compra de voto
O Itamaraty convocou o embaixador uruguaio no Brasil, Carlos Daniel Amorín-Tenconi, para dar esclarecimentos sobre declarações do chanceler uruguaio Rodolfo Nin Novoa.
O governo brasileiro ficou irritado com Novoa, que disse na semana passada ter se incomodado com a oferta do Brasil de acordos comerciais "como que querendo comprar o voto do Uruguai" para impedir que a Venezuela assuma a presidência do Mercosul.
O embaixador uruguaio foi recebido pelo secretário geral do Itamaraty, Marcos Galvão, que transmitiu a "insatisfação" do governo brasileiro com as declarações e pediu explicações.
A percepção do governo brasileiro é de que as declarações de Novoa foram focadas no público interno, principalmente na Frente Ampla, que apoia o presidente venezuelano, Nicolás Maduro. Mesmo assim, foram consideradas "inaceitáveis".
O Itamaraty admite que será difícil convencer o Uruguai de impedir a Venezuela de assumir a presidência do Mercosul. Mas afirmam que nem os brasileiros, nem os paraguaios irão ceder.
Boris Vergara/Xinhua | ||
Militares venezuelanos hasteiam bandeira do Mercosul em Caracas apesar de impasse no bloco |
Na semana passada, Novoa afirmou que o presidente Tabaré Vázquez ficou "muito incomodado" com uma proposta do governo brasileiro para, segundo Novoa, "comprar o voto do Uruguai" no debate que envolve a presidência venezuelana do Mercosul.
As informações foram reveladas pelo jornal uruguaio "El País" nesta terça-feira (16).
"Não nos agradou muito que o chanceler [José] Serra viera ao Uruguai nos dizer -publicamente, por isso eu digo- que vinham com a pretensão de suspender a transferência [da presidência do Mercosul do Uruguai para a Venezuela] e que, se suspensa, nos levariam em suas negociações com outros países, como que querendo comprar o voto do Uruguai", afirmou Novoa durante um encontro da Comissão de Assuntos Internacionais da Congresso uruguaio, no último dia 10, de acordo com o jornal.
CRISE
O Mercosul está sem um líder há 15 dias, desde que o Uruguai (único país que defende a Venezuela) deu por encerrado seu período na presidência do bloco.
Brasil, Paraguai e Argentina se opõem ao presidente venezuelano Nicolás Maduro com a justificativa de que seu governo não respeita direitos humanos, mantendo presos políticos de oposição.
Esses três países avaliam ainda a possibilidade de "rebaixar" a Venezuela dentro do Mercosul para impedir que o país assuma a presidência.
Serra já defendeu uma "presidência-tampão" até que a Argentina —a próxima, pela ordem alfabética— assuma o bloco.
Enquanto não tiver um líder, o Mercosul poderá ter suas negociações internacionais com terceiros atrasadas, a implementação de acordos firmados com outros países congeladas e não fechar novas parcerias.
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