'Estendo a mão à oposição', diz Maduro em reunião com o Vaticano
Após um suspense que se estendeu por todo o domingo sobre a participação da oposição no encontro marcado com o governo de Nicolás Maduro para a noite, as duas partes se reuniram, sob a mediação do Vaticano, num museu nos arredores de Caracas.
Já passava das 20h (22h de Brasília) quando Maduro abriu a reunião no Museu Alejandro Otero dizendo que assumia um "compromisso total e absoluto com este processo de diálogo".
"Estendo a mão à MUD para dialogar", afirmou o presidente, diante do secretário-geral da MUD (Mesa da Unidade Democrática), Jesús Torrealba, e representantes dos partidos de oposição Acción Democrática, Primero Justicia e Un Nuevo Tiempo.
Marco Bello/Reuters | ||
Maduro fala em reunião com opositores e o Vaticano, em um museu nos arredores de Caracas |
"Viemos dispostos a escutar e, tomara, sermos escutados. Eu assumo o compromisso mais profundo neste processo de paz", disse Maduro. O encontro, que não havia acabado até as 22:30 (0:30 de Brasília), foi o primeiro sob a mediação do Vaticano, que esteve representado pelo italiano Claudio María Celli, presidente do Conselho Pontifício para as Comunicações Sociais.
Como observadores, participaram ainda o secretário-geral da Unasul, Ernesto Samper, o ex-premiê espanhol José Luis Rodríguez Zapatero e os presidentes Martín Torrijos (Panamá) e Leonel Fernández (República Dominicana) –grupo que já vem tentando mediar um diálogo entre governo e oposição há meses.
Apesar da presença de Torrealba e de representantes de três grandes partidos da MUD, outras 16 legendas decidiram ficar de fora deste primeiro encontro. Entre elas, a Vontade Popular, do opositor detido Leopoldo López, que, em nota da MUD divulgada na tarde de domingo, disse considerar que o governo "não melhorou as condições atuais de repressão, intimidação e perseguição contra a oposição e contra todo o povo".
O partido solicitou ainda "gestos importantes em benefício do povo" e a libertação dos presos políticos.
As legendas da MUD chegaram a se reunir mais cedo no domingo para tentar chegar a um acordo sobre o diálogo, sem sucesso.
No sábado (29), 15 dos 19 partidos que integram a coalizão divulgaram um comunicado dizendo que os antecedentes com Maduro obrigam a oposição "a estar alerta" e "não ser ingênua". "Maduro e seu regime têm o hábito de usar o diálogo como um mecanismo de evasão de suas responsabilidades constitucionais, para ganhar tempo e burlar a luta cívica do povo", afirma a nota.
O texto cita pontos acordados por Maduro e não cumpridos em outras tentativas de diálogo, como a libertação do opositor Iván Simonovis.
VATICANO
A mediação da Santa Sé foi um pedido feito por Maduro, que foi recebido, na última segunda (24) no Vaticano pelo papa. A Igreja Católica mediou, com sucesso, as negociações para a reaproximação entre Cuba e os EUA, que teve início no fim de 2014.
A expectativa sobre o sucesso da mediação do Vaticano no caso venezuelano é alta, tanto que os países fundadores do Mercosul decidiram, no sábado, esperar essas conversas antes de discutir uma eventual suspensão de Caracas do bloco com base na sua cláusula democrática.
Não é possível saber ainda, porém, se a conversa deste domingo arrefecerá os ânimos, mais exaltados desde que o processo de convocação do referendo revogatório sobre o mandato de Maduro foi suspenso pelo CNE (Conselho Nacional Eleitoral).
A MUD convocou uma greve geral na última sexta (28) no país e programa uma marcha para a próxima quinta (3) até o Palácio de Miraflores, sede da Presidência.
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