Em centenário, americanos veem JFK além do mito e de segredos familiares
Cecil Stoughton/Reuters | ||
Kennedy e a primeira-dama Jacqueline chegam a Dallas em 22/11/63, dia do assassinato |
Nesta segunda (29), o ator Martin Sheen, que interpretou o carismático presidente democrata Jed Bartlet da série "The West Wing", subirá ao palco do Kennedy Center, em Washington, para ler trechos de discursos de John F. Kennedy, o presidente mais popular dos EUA desde o fim da Segunda Guerra.
O encontro entre ficção e realidade faz parte das comemorações pelo centenário de nascimento de JFK, que, em seu breve mandato, registrou a maior média de aprovação (70%) de um presidente desde 1945 e cujo legado só passou a ser questionado décadas após seu assassinato, em novembro de 1963.
O fascínio exercido por Kennedy e por tudo o que o cercava blindou seu governo por anos após sua morte, junto com um grande esforço da família de manter em segredo suas traições.
Mais novo presidente a assumir o posto nos EUA, aos 43, Kennedy era bonito e bom orador, tinha uma mulher elegante tão carismática quanto ele e duas crianças adoráveis –cuja imagem brincando no Salão Oval é uma das mais buscadas na exposição sobre seu centenário no Museu de Arte Americana de Washington.
Contam ainda a favor de Kennedy seu posicionamento público em favor dos direitos civis, seu incentivo à corrida espacial americana e sua decisão por não escalar o conflito na crise dos mísseis de 1962 com Rússia e Cuba.
Para muitos historiadores, no entanto, a morte trágica de JFK e a insatisfação popular com governos posteriores prejudicaram uma análise mais objetiva sobre o real desempenho de Kennedy.
Robert Dallek, autor de "John F. Kennedy - An Unfinished Life" (Uma vida inacabada), defende no livro que as conquistas de Kennedy no país "ficam muito aquém de qualquer coisa que possa o identificar como grandioso ou mesmo perto de grandioso".
O democrata, por exemplo, só teria começado a falar mais enfaticamente sobre a necessidade do fim da segregação diante do aumento da pressão popular, meses antes de sua morte. Caberia ao seu vice –e sucessor–, Lyndon Johnson, implementar a Lei de Direitos Civis, em 1964.
Dallek aponta ainda o fracasso da invasão da Baía dos Porcos, em Cuba, em 1961, e a escalada iniciada, em seu governo, da Guerra do Vietnã.
Com os anos, os americanos tomaram conhecimento de todas as amantes do presidente –de Marilyn Monroe à estagiária Mimi Alford, que afirmou ter perdido a virgindade com Kennedy, aos 19, na cama da primeira-dama.
Anos depois, foi revelado que JFK também havia feito gravações secretas de conversas no Salão Oval e que escondia do público sua frágil condição de saúde –ele tinha mal de Addison, que lhe dava fortes dores nas costas, tratadas com injeções.
Nada disso, porém, manchou a imagem de Kennedy a ponto de atrapalhar o caminho de sua família na política. Pelo contrário, seu nome e suas citações ainda são referências para sucessores.
Para Trump, uma menção seria providencial neste momento: a do canal secreto mantido entre Kennedy e Moscou em meio à Guerra Fria, que teria evitado um confronto entre as potências.
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