Análise
Eleição francesa culmina em tragédia política para Partido Socialista
O primeiro turno das eleições legislativas francesas de 2017, neste domingo (11), será lembrado como tragédia para o Partido Socialista.
A legenda deverá eleger no máximo 25 dos 577 deputados à Assembleia Nacional. Será um poço bem mais profundo que o de 1993, quando o PS preencheu somente 57 cadeiras.
Esse declínio era previsível depois das eleições presidenciais de 7 de maio, quando o socialista Benoit Hamon —que não conseguiu passar para o segundo turno neste domingo— recebeu apenas 6,4% dos votos e não se classificou para o turno final, vencido pelo centrista Emmanuel Macron.
O desempenho pífio já era o resultado dos enganos derivados do divórcio entre o partido e o eleitorado francês de esquerda.
Há, em primeiro lugar, a imagem morna e pouco convincente do presidente socialista Fraçois Hollande (2012-2017), que abriu o corredor para as derrotas que começaram com as eleições municipais de 2014.
O sentimento difuso entre os eleitores de esquerda era o de que o PS não trazia mais nada de viável para oferecer. A taxa de desemprego, que é o índice mais visível numa sociedade de abundância material, subiu com Hollande de 9,8% para 10,3%.
E a França, com uma máquina estatal pesada e pouco eficiente, deixou aos poucos as posições mundiais de que se orgulhava em setores como o ensino público e a alta tecnologia industrial.
Esse declínio foi lento, mas, apesar disso, vivenciado num clima de polarização durante o qual, depois de François Mitterrand (1981-1995), os socialistas se colocavam como alternativa viável ao liberalismo de direita que prevaleceu durante os mandatos presidenciais de Jacques Chirac e Nicolas Sarkozy (1995-2012).
A safra da derrota que está sendo agora colhida tem algo a ver com a diretriz oscilante do partido ao longo do último quinquênio. O PS chegou a ter um secretário-geral, Harlem Désir, que atacava a CDU-CSU alemã por seu conservadorismo social. Mas a seguir o partido escorregou para uma linguagem mais próxima à do trabalhismo britânico de Tony Blair.
Optar por um percurso ideologicamente inverso tampouco traria bons resultados eleitorais. O PS se confundiria com o hoje minúsculo Partido Comunista e com o grupo liderado por Jean-Luc Mélennchon, que agora obtiveram 14% dos votos e farão não mais que 23 deputados.
De qualquer modo, está aberto um imenso espaço para a discussão interna do que deva ser uma formação moderada de esquerda francesa.
Por enquanto, resta lamentar, como o fez na noite deste domingo o secretário-geral do PS, o deputado parisiense Jean-Christophe Cambadélis.
"Nossa democracia não pode se dar ao luxo de adoecer", declarou ele, referindo-se aos efeitos da unanimidade artificial que se formou em torno do presidente Emmanuel Macron.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
1º turno das eleições legislativas na França |
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