A importância do Brasil em missões de paz
Danilo Verpa/Folhapress | ||
Militares do Exército brasileiro durante última visita ao bairro de Cité Soleil, em Porto Príncipe |
Em 2005 e 2006, gangues armadas controlavam áreas de Cité Soleil, em Porto Príncipe, capital do Haiti. Civis viviam com medo, e a pobreza era generalizada. A Polícia Nacional raramente entrava na região. Mas a Minustah (Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti) tinha a sorte de ter brasileiros. Com capacidade e postura militar, esses bravos pacificadores libertaram a região das gangues.
Na primavera de 2007, Cité Soleil era uma comunidade vibrante, cujos moradores começavam mais uma vez a viver sem medo.
Melhorar a vida dos moradores de Cité Soleil não foi o único sucesso dos mais de 30 mil militares brasileiros nos 13 anos da Minustah. Ao lado de integrantes de outros países, ajudaram a estabelecer uma percepção maior de segurança e criaram espaço para desenvolvimento. Depois do terremoto ocorrido em janeiro de 2010, o Brasil foi vital nos esforços de reconstrução e em iniciativas humanitárias.
Os brasileiros ganharam reputação como exemplo de competência e capacidade operacional nas missões de paz. O Brasil tem contribuído em outras operações, como Angola e Líbano, com comandantes militares no Haiti e na República Democrática do Congo.
É, então, muito natural para as Nações Unidas buscar a contribuição brasileira para outra missão. Recentemente, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, reiterou o compromisso do Brasil com as missões de paz, com a responsabilidade de proteger os civis em situação de risco.
Isso demonstra o desejo do país de promover a paz no mundo e cooperar para o progresso da humanidade, em sintonia com os princípios que guiam a diplomacia do Brasil, um dos países-membros que fundaram as Nações Unidas.
Hoje, o Brasil pode mais uma vez fazer a diferença para as missões de paz da ONU e, mais importante, na vida de milhões de pessoas. Enquanto os capacetes azuis estão instalados em 15 lugares do mundo, é a República Centro-Africana que requer mais tropas confiáveis e fortes. É lá que precisamos dos brasileiros.
A situação no país se deteriorou gravemente no último ano, levando a atrocidades e grandes deslocamentos. Um processo de diálogo e reconciliação foi lançado pelo presidente democraticamente eleito, Faustin-Archange Touadéra, com forte apoio da União Africana e da ONU.
Integrantes da missão da ONU no país, a Minusca, protegem a população e apoiam trabalhadores humanitários. Milhares de vidas têm sido salvas, e a segurança foi restabelecida na capital, Bangui. Mas a limitação de nossa capacidade nos impede de fazer mais.
O Conselho de Segurança da ONU aprovou o envio de mais 900 militares proposto pelo secretário-geral, António Guterres. Esse reforço pode fazer a diferença no país, mas precisamos de tropas firmes, prontas e dispostas.
O Brasil preenche essa descrição, e acredito firmemente que está bem preparado para deixar a República Centro-Africana estável e mais segura.
Na minha visita ao Brasil, encontrarei líderes políticas e de segurança e, por meio deles, o povo brasileiro, a quem agradecerei pela inestimável contribuição e sacrifício nas forças de paz.
Também buscarei parceria para a paz e a segurança na República Centro-Africana. Neste mundo interconectado, insegurança em um único lugar afeta a todos. Se abandonarmos a República Centro-Africana, o país pode se tornar um refúgio para grupos terroristas e criminosos, que são uma ameaça a todos.
As forças de paz são uma "responsabilidade compartilhada" e, uma vez mais, contamos com o apoio e a liderança do Brasil em fazer a diferença de forma concreta, como fez na vida dos homens, mulheres e crianças de Cité Soleil.
JEAN-PIERRE LACROIX, formado no Instituto de Estudos Políticos de Paris, é subsecretário-geral das Nações Unidas para Missões de Paz
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