Veja a íntegra do discurso de posse de Michel Temer
Favorito na corrida pelo comando da Câmara, o deputado Michel Temer (PMDB-SP) foi eleito nesta segunda-feira o novo presidente da Casa, com 304 votos. Ele disputou o cargo com os deputados Ciro Nogueira (PP-PI) e Aldo Rebelo (PC do B-SP) --que receberam 129 e 76 votos, respectivamente.
Veja imagens da eleição na Câmara
Veja imagens da eleição no Senado
Leia abaixo a íntegra do discurso de posse de Michel Temer:
"Sras. e srs. parlamentares, eleitores e não-eleitores, aproveito a manifestação do Plenário para dizer que agora não há eleitores e não-eleitores. Há deputados do Poder Legislativo brasileiro.
Meus amigos, sempre aprendi a distinguir muito bem, coisa que poucos fazem, entre o momento político-eleitoral e o momento político-administrativo. No momento político-eleitoral que antecede a eleição há uma disputa, muitas vezes, acirrada, em que vez ou outra podem lançar-se algumas farpas, mas que são superadas pela consciência que temos todos de que quem é eleito representa a todos. O momento político-administrativo é este que se inicia neste momento.
Ainda agora, recebendo o afetuoso abraço do deputado Ciro Nogueira, disse a S.Exa.: Vou precisar muito de sua experiência e do prestígio que V.Exa. tem com os colegas da Casa. Como lanço a mesma mensagem ao colega Aldo Rebelo, cujos méritos já exaltei, não preciso voltar a fazê-lo nessa segunda oportunidade.
Quero reiterar meu agradecimento a todos. Precisamente agora que fui eleito, tive, confesso, na tribuna, quando falava como candidato, a tentação de dizer o que agora vou registrar, ou seja, que não sou um deputado eleito pelo PMDB em favor do PMDB. Sou um deputado eleito presidente pela Casa, integrada por vários partidos.
Tenho a consciência absoluta do papel que a vida, muitas vezes, nos entrega. Ela já me entregou vários papéis, entregou o de secretário de Estado, o de líder do partido, o de presidente do partido, hoje me entrega o papel de presidente da Câmara dos Deputados. Quero representar esse papel, e o farei com a dignidade que o cargo exige e comporta e que os 304 votos me autorizaram a assim me expressar.
Quero dizer também --acho que o momento é oportuno-- que iremos atravessar um biênio complicado. Não temos a menor dúvida de que o período não será fácil.
Portanto, todos temos que nos fraternizar, a começar pelos Poderes do Estado. Legislativo, Executivo e Judiciário hão de atuar em estreita harmonia, porque acima de qualquer divergência está o interesse do País.
Aqui, na Câmara dos Deputados, onde há situação e oposição, tenho certeza de que nós também iremos nos fraternizar. Vamos exercitar a tarefa de conduzir os destinos desta Casa voltados todos para os problemas do País.
Volto a dizer que a crise que se avizinha encontrará resistência no país, especialmente no Poder Legislativo. Em meu discurso como candidato disse: Nós precisamos habilitar, trabalhar aqui na Câmara dos Deputados para que possamos formular ideias que levem o país a enfrentar qualquer espécie de crise.
Sabemos também --alguns dos meus colegas que comigo concorreram levantaram este dado-- que temas como o da educação, da saúde e da segurança pública não serão tratados por nós, como muitas vezes o são durante as campanhas nas eleições, como temas eleitorais, e sim como temas de interesse da sociedade brasileira.
Por isso, a todos eles nós vamos nos dedicar.
Quero registrar, também, que neste período nós vamos regulamentar toda a Constituição brasileira, um trabalho que se iniciou com o presidente Arlindo Chinaglia, mas que, evidentemente, não pôde ser levado a cabo, até o final, e, desde já, faço uma observação, para colocar entre parênteses um dos aspectos mais importantes da minha manifestação: o elogio público que faço ao presidente que deixa esta cadeira.
Arlindo Chinaglia soube comportar-se com muita dignidade, e nós todos sabemos como é difícil compor os interesses desta Casa. Apesar do seu jeito um pouco mais, digamos assim, objetivo e mais direto, de quem não costeia situações, o fato é que este objetivo direto, concreto, palpável, tem, ainda, a virtude de que palavra dada é palavra cumprida.
Eu acho que o presidente Arlindo merece de todos nós este reconhecimento - o reconhecimento de quem sai e deixa nesta cadeira uma responsabilidade muito grande, quanto a deixar exemplos. Deixa a nós a responsabilidade de nos conduzirmos nos termos em que ele conduziu, ao tempo em que nos deixa a todos do Parlamento a ideia de que é preciso acabar com essa história de acordos feitos não serem cumpridos. Acordos feitos pelas Lideranças, pelos partidos, pelas bancadas têm de vir para o plenário com o cumprimento absoluto entre todos os membros da Casa.
É isso, meus senhores e minhas senhoras, que dá relevo, que dá tamanho, que dá dimensão à nossa instituição.
Temos problemas urgentes pela frente. Urgentes e ingentes. Mas não vamos nos atemorizar quando eventualmente tivermos que tomar medidas impopulares, quando vez ou outra a imprensa, que é irmã siamesa do Poder Legislativo... A todo momento costumo dizer que Legislativo forte é sinônimo de imprensa livre e imprensa forte, e que Legislativo fraco e fechado é sinônimo de imprensa fraca, de imprensa desprestigiada, de imprensa que pode até ver calada sua voz, como aconteceu em muitos momentos da história do nosso País.
Então, vamos ao longo desse tempo enfrentar grandes temas. Mas devo dizer, por mais críticas que muitas vezes se façam ao Poder Legislativo, à Câmara dos Deputados, que a dignidade, o tamanho, a estatura pessoal, política, administrativa e moral, a experiência daqueles colegas, homens e mulheres que aqui estão espancarão qualquer dúvida a respeito da eventual inoportunidade de uma medida tomada pela Câmara dos Deputados.
Quero, portanto, mais uma vez, agradecer o apoio, cumprimentar, não o fiz durante a minha fala como candidato, mas, às vezes, os latinos dizem: verba volant, scripta manent - as palavras voam, a escrita permanece.
Embora não tenha mencionado as mulheres, portanto não verbalizei, o fato que já escrevi o meu compromisso com as colegas mulheres desta Casa de criar uma Procuradoria Parlamentar Feminina, sobretudo, fazer com que uma representante da comunidade feminina tenha assento no Colégio de Líderes. Parece pouco, mas é muito, tendo em vista, embora tenhamos 46 Deputadas nesta Casa, o fato é que 50% do eleitorado brasileiro é feminino.
De modo meus amigos e minhas amigas e V.Exas. hão de compreender que neste momento eu estou mais emocionado do que aquele ainda. Naquele eu estava assustado e emocionado. Neste eu estou assustado e emocionado pela tarefa que vem pela frente. Não quero entrar em detalhes sobre o que vamos ou não fazer porque será extremamente pretensioso. Vamos fazer ou não aquilo que o Plenário desta Casa, pelas suas Lideranças, determinarem ao Presidente da Casa.
Mas quero registrar desde já que nós preservaremos a indenidade, a integridade do Poder Legislativo. O meu sonho é que, ao final deste mandato --coincidindo, aliás, com as eleições ou reeleições que todos nós vamos enfrentar--, eu possa sair daqui, que nós todos possamos sair daqui e passar, entrar em todos os lares e bairros, em todos os campos e recantos, caminhar por todos os caminhos e escaninhos, entrar em qualquer aeroporto, ir ao nosso eleitorado e o nosso eleitorado se dirigir a nós, nos cumprimentar e dizer: Deputado, parabéns pela sua conduta no Poder Legislativo nacional.
Muito obrigado a todos.
Não quero deixar de agradecer também às lideranças partidárias e às bancadas que me apoiaram e pedir a essas lideranças e bancadas que se irmanem com as lideranças e bancadas que não nos apoiaram. Este é, digamos assim, o fecho final daquilo que eu gostaria de dizer."
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