"Por incrível que pareça, o que falta para Brasília é planejamento", diz geógrafo
Tida como uma utopia há meio século, Brasília impressionou o mundo ao nascer no meio do cerrado com uma ousada arquitetura de vanguarda e um planejamento urbanístico que a levou a ter o status de "capital do futuro".
Entretanto, a falta de políticas públicas ao longo de 50 anos fez com que a capital se encontrasse hoje com grande risco de sucumbir, ironicamente, pela falta de planejamento, transformando-se em mais uma metrópole cheia de problemas do Brasil, na avaliação do geógrafo e pesquisador da UNB (Universidade de Brasília), Aldo Paviani.
Acervo UH -21.abr.1960/Folha Imagem |
Aviões da esquadrilha da fumaça, da FAB (Força Aérea Brasileira), fizeram show aéreo na inauguração de Brasília |
"Desde sua criação, a capital federal cresceu indiscriminadamente porque não se concebeu o Plano Piloto como a cidade fechada que queria Lúcio Costa. Hoje, Brasília é todo o conjunto urbano do Distrito Federal, com o Plano Piloto como centro. Por incrível que pareça, o que falta para Brasília é planejamento", afirmou o pesquisador.
Para ele, se soluções radicais não forem tomadas rapidamente, Brasília se tornará ingovernável em 20 anos. Isso porque, segundo Paviani, a cidade não se conteve nos traços idealizados por Lúcio Costa.
"Logo que cheguei em Brasília, em 1969, participei de um projeto de pesquisa sobre mobilidade da população. E descobrimos que, já naquela época, ninguém trabalhava fora do Plano Piloto. E isso não mudou. Brasília continua sendo o centro comercial, empresarial e social do Distrito Federal. É como se existisse um funil jogando quase 4 milhões de habitantes numa cidade planejada para comportar, no máximo, 500 mil pessoas", disse.
De acordo com o pesquisador, tirando Taguatinga (a 29 km de Brasília) e Núcleo Bandeirantes (a 12 km), as cidades satélites de Brasília sempre funcionaram apenas como dormitórios que todas as manhãs a população deixa em massa rumo ao mesmo lugar. No caso, o Plano Piloto, que possui os melhores postos de trabalho.
A maior consequência disso, ainda segundo Paviani, pode ser vista nos gargalos de trânsito formados na capital. "Brasília não é uma ilha da fantasia, como se dizia na sua inauguração. Ela sofre de todos os problemas que uma metrópole sofre. O mais visível deles, atualmente, é o caos do trânsito, porque não se criou transportes coletivos compatíveis com o volume de pessoas. O metrô é pequeno, não dá vazão", disse.
Dizendo-se, apesar de tudo, um apaixonado pela cidade, Paviani acredita que a solução está naquilo que nenhum governo foi capaz de fazer em meio século: descentralizar o Plano Piloto.
"Tem de haver um investimento e um planejamento capaz de fazer com que cada região administrativa seja autossuficiente. Só assim o morador de Brazlândia (a 60 km de Brasília), por exemplo, não vai precisar viajar todos os dias para trabalhar. Ele vai trabalhar na sua própria cidade e, consequentemente, desenvolvê-la", afirmou.
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